segunda-feira, 6 de junho de 2011

Boletim de Avaliação do Autista (por Manuel Vazquez Gil)

Comentei recentemente sobre um tal boletim de avaliação e sobre os itens que o compõem. Geralmente, esse é o pontapé inicial de um trabalho com crianças autistas, porque avalia o estágio de desenvolvimento em que se encontra, e porque possibilita reunir informações diárias da mãe e da professora sobre as intervenções da criança.

           

Os sete itens que fazem parte do relatório diário foram copiados do PEP-r, teste psicológico aplicado em crianças com dificuldades de comunicação. Esses parâmetros foram escolhidos, entre outras qualidades, porque são efetivamente as áreas do desenvolvimento infantil, porque não utilizamos tempo de atividade, mas sua crescente dificuldade, e porque é simples e fácil de aferir.

           

A metodologia segue o seguinte caminho: dois cadernos, um para a mãe, outro para a professora, onde vão ser anotadas todas as novas aquisições da criança por um período de três meses, em cada ítem específico. Ao fim desse período, o terapeuta que está dirigindo o processo se reúne com ambas, para quantificar os progressos. Isso gera gráficos de barras, para melhor visualização da criança.

              Essa visualização vai oferecer subsídios para as atividades do próximo trimestre, onde vão ser favorecidos dois itens: aquele no qual a criança teve menor evolução, para melhor performance, e aquele onde teve a maior evolução, como modo de incentivo.

           

Embora os parâmetros coincidam com os do PEP-r, não efetuamos testes nas crianças, apenas observamos e modificamos as atividades próximas, porém dentro de uma rotina já conhecida da criança. Substituindo brincadeiras, jogos, atividades, por aqueles que vão favorecer seu desenvolvimento, o sistema torna-se natural e aceitável pelo sujeito.

                         

Os sete itens, e suas características:

           

IMITAÇÃO – capacidade de imitar através de atividades corporais, de manipulação de objetos e linguagem. A imitação é, provavelmente, a capacidade mais importante no que toca aos transtornos invasivos, pelas implicações que tem para as performances sócio-comunicativas.

           

COORDENAÇÃO VISUO-MOTORA – essencial para futuro desenvolvimento da leitura e escrita, trata da integração olho-mão e de habilidades motoras finas. Esta área depende muito da habilidade do observador para verificar se, nas ações manuais rotineiras, como desenhar ou brincar com massinhas, a criança segue com os olhos o movimento das mãos, e se vai abandonando esse hábito ao longo do tempo.

           

PERCEPÇÃO – perceber é reconhecer com os sentidos Testa-se o funcionamento das modalidades sensoriais (visual e auditiva), que são necessárias para a organização de um estímulo recebido. Jogos como cobra-cega, qual é a figura igual, sete diferenças, discriminação de ruídos são exemplos neste ítem.

   

COORDENAÇÃO MOTORA AMPLA – necessária para tarefas rotineiras, como andar normal, andar por cima de objetos colocados no chão, engatinhar ou andar de joelhos, corridas livres ou com obstáculos, saltar por cima de uma corda oscilante, andar de bicicleta, pular amarelinha, jogos de bola ou de equilíbrio, estátua, ficar equilibrado sobre um dos pés.

           

COORDENAÇÃO MOTORA FINA – também necessária para a rotina. Vestir bonecos, vestir-se, enfiar miçangas, martelo e pregos, rolar bolas pequenas, corte com tesoura em linha reta, amassar papéis, torcer e destorcer papéis de balas, embrulhar objetos miúdos, fazer figuras com massinha.

           

PEERFORMANCE COGNITIVA – relacionada ao desenvolvimento do pensamento. Trata-se da compreensão de conceitos emitidos pelas ordens percebidas. Transforma-lo em ajudante, dando-lhes tarefas cada vez mais complexas, pode ser uma maneira lúdica de medir a performance cognitiva.

           

COGNIÇÃO VERBAL – relacionada ao desenvolvimento da linguagem. A partir do número de palavras que a criança verbaliza, vão-se acrescentando vocábulos novos adquiridos e reforçados, tornando-se permanentes. Só valem, aqui, palavras que qualquer pessoa que domine o idioma compreenda, e não aquelas que cuidadores, acostumados com a criança, reconhecem.

           

De posse dessas informações, você, mãe, você professora, elaborem um caderno e reservem algumas páginas para cada ítem desses. Preencham as primeiras linhas com as capacidades que sua criança tem hoje: ele imita o cachorro, o macaco, o bob esponja e o meu cunhado. Anda bem de triciclo, mas não de bicicleta com as rodinhas. Exemplos ilustrativos, que você nem vai precisar ao observar a discriminação de cada ítem. 

           

Depois, sistematicamente, anotem as aquisições que essa criança for ganhando. A ideia central é comparar a criança com ela mesma, e não com o grupo do qual faz parte. Com o tempo, ela vai equalizando suas aquisições, vai ganhando segurança numa área, melhorando a outra, até alcançar o grupo.

           

Não se envergonhe e nem tenha nenhum tipo de pudor: se quiser enviar suas anotações para mim, para que possamos acompanha-las juntos, estou sempre aberto e disponível para esse tipo de ação. Não deixe de acreditar no método.

           

Num futuro próximo, bem próximo, desenvolveremos conhecimentos teóricos suficientes para dar um embasamento a tudo isso. Ainda falta você compreender o sistema nervoso central, o papel do hipocampo nisso tudo, e a necessidade dos rituais autistas para o seu desenvolvimento. Não crie angústia, estamos andando, e precisamos ir devagar.

 

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