sexta-feira, 27 de julho de 2012

"Autismo: quem ama educa" - coluna da Viviane Damasceno


Tenho certeza que Içami Tiba não vai me cobrar direitos autorais por utilizar o título de seu Best Seller na construção do título de minha humilde coluna. Faço isso movida pelo meu desejo de chamar a atenção de todos que amam e, sobretudo, daqueles que se preocupam na educação com amor.
A educação é a grande porta para a inclusão social. Essa verdade vale também para o autista.
Dia 2 de abril, é o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, data instituída pela ONU em dezembro de 2007, na busca de esclarecer e alertar a importância do diagnóstico e intervenção precoce.

Ouço tanto falar em inclusão social, do poder da educação e em como as pessoas portadoras de necessidades especiais devem ser acolhidas em nosso meio. Vejo que várias escolas estão se preparando (?) para receber tais pessoas. Noto algumas rampas, elevadores, corrimãos, banheiros exclusivos, enfim, alguma diferença na estrutura física. Porém, de acordo com a lei, não pode haver salas de aula exclusivas.

Conversando com Rita Brasil, diretora do AMA, fiquei sabendo que a didática que serve para várias síndromes não serve para o autista. Por isso a dificuldade em instituições como o Pestalozzi e Irmã Dulce. Este necessita não apenas de uma didática exclusiva, mas de uma instituição também exclusiva nos primeiros anos de desenvolvimento.
Um autista para aprender, necessitará por anos a fio, de um (a) professor (a) exclusivo (a) lhe ensinando cada saliência dos objetos e cada curva e reta na formação de uma única letra. Como já mencionei, este profissional precisa ser preparado num curso efetivo para a educação de autistas. Ele vai ensinar, entre tantas coisas, o básico para uma mínima autonomia como sentar, comer, ir ao banheiro etc.

Ao contrário do que se pensa, a hiperatividade é um dos maiores empecilhos para que o autista consiga permanecer numa sala de aula convencional porque ele simplesmente se recusa a sentar.
Há leis que normatizam o acesso e a inclusão nas escolas convencionais, reservando-lhe lugar desde o estacionamento. Todavia não há formação aos professores para que estes tenham o mínimo de preparo para lidar com essa criança.

Mesmo que se busquem centros especiais de atenção ao autista, os pais destes portadores conhecem de perto a escassez de opções e inexistência em muitas cidades que compõem nossa Pátria amada.
Não basta ao autista ser preparado nos raros centros para o ingresso nas escolas convencionais. Há de se ter uma continuidade pedagógica e um diálogo entre ambas as instituições. Caso contrário, o trabalho arduamente empenhado sofrerá rupturas drásticas e o que autista menos precisa é romper com o mínimo que construiu.

Conheci o AMA –BA (Associação de Amigos do Autista) por conta de um estudo que começo a desenvolver acerca da socialização dos adolescentes. É mesmo interessante o estudo da socialização dos adolescentes em suas diversas áreas, mas estudar o que já está socializado e largamente equipado com tantos meios de comunicação é “chover no molhado”, por isso o estudo me direcionou justamente às margens da sociedade.

O AMA conta hoje com 128 alunos e uma lista de espera de mais de 300. Um time maravilhoso de voluntários e outro de professores conveniados do município e do estado. Impossível desenvolver esse estudo e não se envolver com a causa.

Primeiro pelo amor que paira naquele ambiente de tanta diversidade, segundo pela força que o amor é capaz de produzir e finalmente pelo incômodo em ver como as políticas públicas que foram criadas para cuidar do cidadão ainda são massivamente inacessíveis. 

A luta é diária, é sofrida e o mais triste, quase solitária. O dia 2 de abril é segunda feira próxima e para que ninguém deixe de trabalhar para estar neste encontro, aqui em Salvador, a mobilização pela conscientização do Autismo ocorrerá no domingo, dia 1° de abril, num dos pontos mais lindos desta cidade: o Farol da Barra. Certamente o sol estará brilhando e o céu estará tão azul quanto as camisetas dos que amam.
Convido você a vestir algo azul e fazer desta luta solitária uma luta solidária e provar que o azul do céu é para todos.

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