quarta-feira, 1 de maio de 2013

TRECHO DA ENTREVISTA COM SAMAHRIA KAUFMAN, A CRIADORA DO PROGRAMA SON-RISE

Do perfil da Sandra Santos, no facebook:
 "O Programa Son-Rise para crianças especiais pode ser aplicado para todo tipo de crianças com dificuldades? Por exemplo, você faria esse tipo de coisa para uma criança que é autista, ou para uma criança que estivesse sofrendo de alguma dificuldade física grave?

Resposta:Eu trabalho com crianças com todo tipo de problemas. Autistas, com atraso de desenvolvimento, epiléticas, com Síndrome de Down, paralíticas, qualquer dificuldade que uma criança possa estar enfrentando, nós trabalhamos com isso.

E quando eu digo isso, eu quero dizer que nós trazemos a criança aqui, seja de onde for, e quando ela chega, nós ficamos com a criança, observamos ela, e vamos com a criança, seja onde ela estiver. Se a criança, por exemplo, como você disse, tiver uma deficiência física..

Deixe-me te dar um exemplo:
Nós tivemos um garotinho, de 8 anos, e eu recebi uma ligação de sua mãe dizendo que ela acabara de ter o diagnóstico do seu filho, e que ela estava muito chateada e destruída com aquilo. A criança dela tinha uma doença na qual eu nunca tinha ouvido falar. Era uma doença neurodegenerativa. E na verdade, sua criança nem deveria ter tanto movimento quanto ele tinha. E ela tinha recebido a noticia de que seu filho só teria mais 6 meses de vida. E então eu trouxe ela pra cá da melhor maneira que pudemos, e nós começamos com a criança.

Deixe-me descrever pra você como essa criança chegou aqui. Primeiramente, ele estava em uma cadeira de rodas, ele não podia andar, levantar, e suas mãos eram torcidas nos pulsos e ele não podia usar seus dedos para fazer qualquer coisa. O melhor que ele podia fazer era juntar seus pulsos para segurar um objeto, mas não podia, de qualquer maneira, usar suas mãos e dedos para manipular objetos. Foi assim que ele chegou. E é claro, nós começamos sem ter qualquer tipo particular crença sobre o que era possível e o que não era possível para aquela criança. Nós iríamos tentar tudo. Então, primeiramente, ele ia vendo todos aquele jogos/brincadeiras animadoras e ele ficava, constantemente, o dia inteiro, dizendo "oh, eu não posso fazer isso" "eu não posso fazer aquilo".

Esse menino esteve negando a sua capacidade o tempo todo . Mas no segundo dia, ele estava disposto a tentar fazer as coisas. Um dos nossos facilitadores pensou em um jogo ao ouvir as ideias do garoto. A ideia era que ele e o facilitador iriam ser detetives altamente treinados, e no corredor haveria uma bomba, e a bomba poderia destruir o mundo. Então esse pequeno garoto, como detetive especial, tinha o trabalho de entrar no corredor, desativar a bomba, e salvar o mundo. E para fazer isso, ele tinha esse pequeno pino, que ele tinha que colocar no buraco do armário do corredor, que estava trancado (ou algo do tipo). E ele tinha que entrar lá para salvar o mundo. Veja, esse garoto não poderia usar seus dedos para pegar nada, mas ele ficou tão imergido na história, que ele esqueceu daquilo . Então enquanto ele foi para o chão, usou seus dedos para pegar esse pino, com um dos seus dedos e seu dedão pegou o pino, foi para o corredor, e então derrubou-o. E isso se repetiu, literalmente, por horas. 
E o facilitador ficava gritando "RÁPIDO, VOCÊ DERRUBOU, PEGA DE NOVO!" e isso fez o tempo voar e a criança ficou tão envolvida no jogo, salvando o mundo que ele esqueceu de tudo que ele acreditava que não podia fazer. A partir daquele jogo, nós notamos que ele era realmente interessado em consertar coisas, mas ele não acreditava que podia, mas nós começamos a trazer rádios quebrados, rádios que tinham algumas coisas que não funcionavam, nós levamos ele pra fora, onde poderia arrumar placas de carros que estavam caindo, e ele teria que usar ferramentas para apertar os parafusos nas placas, nós aparecíamos com todos esses itens incríveis para ele consertar, e ele se sentiu impressionado em como ele podia fazer tudo isso. E com o tempo, ele se transformou , e ele se via, como o HOMEM CONSERTADOR, que consertava tudo por ali . Agora, imagine isso, toda manha seu pai tinha que ir na sua cama, levá-lo ate o banheiro e fazer todas as atividades necessárias em um banheiro feito especialmente para ele, pois todos acreditavam que ele não poderia mais fazer aquelas funções. Em uma manhã, seu pai levantou , foi até seu quarto, e ele não esta lá. Ele vasculhou a casa e encontrou o menino no banheiro, sentado no vaso sanitário, com a escova de dente nas mãos , escovando os dentes. E o pai olha para ele e diz "Abraham, o que você esta fazendo?" e o menino diz "eu estou escovando meus dentes, papai" "eu posso fazer o que eu quiser!" e o pai começou a chorar.

Verdadeiramente, essa criança estava vendo que ela podia fazer o que quisesse. Nós começamos a semana com ele em um jogo em que ele tinha que sentar e sair da cadeira de rodas. Da primeira vez ele levou mais de uma hora e o procedimento para sair da cadeira de rodas era cansativo e ele suava, e se esforçava muito para sair da cadeira de rodas; e enquanto isso nós estávamos animando ele. No fim da semana, ele conseguia sair e subir na cadeira de rodas em 3 minutos e meio. Isso te mostra que, varias vezes, o seu programa era diferente de outras crianças, mas qualquer que seja o problema, autismo, Síndrome de Down, ou qualquer coisa que represente uma dificuldade para a criança, nós nos movemos com ele, nós o fazemos divertido para nós mesmos primeiro, e eu não posso resistir! Quando um adulto esta realmente se divertindo com aquilo, ele traz a criança para junto dele!"

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