quarta-feira, 30 de maio de 2012

O tratamento não medicamentoso de TDAH - Leonardo Mascaro

O caso a seguir ilustra como o treinamento neurológico por Neurofeedback permitiu o resgate de um funcionamento saudável a um menino de 10 anos de idade com sérios problemas atencionais e comportamentais. Este menino, que chamaremos de RB, chegou ao meu consultório com um quadro diagnosticado de hiperatividade e déficit de atenção (DDA/TDAH).
Mapa inicial

Mapa Q feito antes do início do tratamento
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O mapa Q ou QEEG (veja quadro Mapa inicial) ilustra alguns aspectos de sua atividade cerebral que, de pronto, ajudavam a entender seu caso. Dois aspectos são evidentes. Em primeiro lugar, o excesso de ondas Delta em ambos os lobos frontais (1ª cabeça, na 1ª linha), o que levava a uma lentificação da atividade destas estruturas responsáveis pelas funções executivas de atenção, concentração e raciocínio abstrato. Além disso, saltava aos olhos o "hot spot" em Fz (Sistema Internacional 10-20), ainda na 1ª linha, 4ª e 5ª cabeças. O exame de tomografia funcional de baixa resolução (veja quadro LORETA, figura A), que realizo em meu consultório, partindo de sua atividade eletroencefalográfica, fornece a localização exata de comprometimentos funcionais inclusive de estruturas mais profundas do cérebro, identificando minuciosamente as estruturas envolvidas. No caso, o LORETA identificou as seguintes estruturas disfuncionais: giro frontal superior e médio, no lobo frontal (área de Brodmann 9), e cíngulo anterior, lobo límbico (área de Brodmann 24). Sabe-se, da literatura na área, que atividade elevada do cíngulo anterior pode contribuir para o aparecimento de tiques, comportamentos obsessivo-compulsivos (TOC), bem como comportamento social aberrante. Não por acaso, esta criança apresentava comportamentos que se enquadravam nestas três classes de alterações comportamentais.
LORETA - Exame de tomografia funcional de baixa resolução
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Figura A
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Figura B
Em outro corte, também fornecido pelo LORETA (Figura B), o programa indicou outras áreas em que o cérebro desta criança apresentava comprometimento de atividade. No caso, deficitária em seus lobos parietais, tanto do hemisfério esquerdo quanto do direito, o que ajudava a explicar sua dificuldade de processar contexto, o que o fazia, muitas vezes, se comportar de modo inconveniente no convívio social, na escola e com a família.
Além disso, igualmente evidente em seu mapa inicial, era o padrão de hipercoerência em Delta (quadro Mapa inicial, figura A 1a, 1ª cabeça, 4ª linha) que, no inglês, costuma ser chamado jocosamente de "macaroni head", o que indicava que seu sistema neurológico não estava inibindo a comunicação irrelevante de maneira satisfatória nesta faixa, com perdas de diferenciação funcional. Na prática, isto significava hiperconectividade levando a pouca ou nenhuma flexibilidade na dinâmica existente entre as diferentes redes corticais quando recrutadas, isto é, chamadas a participar de tarefas distintas.
COM O NEUROFEEDBACK, AS MUDANÇAS FORAM IMPRESSIONANTES. OS LOBOS FRONTAIS SE ENCONTRAVAM MENOS CONGESTIONADOS COM A DIMINUIÇÃO DA AMPLITUDE DE ONDAS DELTA E TIVERAM SEU VALOR REDUZIDO PELA METADE
Ainda assim, o cérebro desta criança possuía boa velocidade de transmissão de informações em praticamente todas as faixas do espectro de frequências (quadro Mapa inicial, 5ª linha), um indicativo de inteligência, que lhe permitia, apesar de tudo, garantir algum funcionamento e adaptação a seu cotidiano e às tarefas em sua vida.
O quadro Mapa final apresenta o QEEG desta criança após apenas 16 sessões de treinamento neurológico por Neurofeedback.
Mapa final

Mapa Q feito após apenas 16 sessões
(1 sessão por semana) de Neurofeedback
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É impressionante o nível de mudanças observado em tão pouco tempo. Seus lobos frontais agora se encontram menos congestionados com a diminuição da amplitude de ondas Delta que, de mais de dois desvios-padrão em seu mapa inicial, teve seu valor reduzido pela metade, para praticamente 1 desvio-padrão. Ainda mais evidente é o completo desaparecimento do "hot spot" em Fz. Estas duas mudanças correlacionaram perfeitamente com os relatos dos pais e da escola de melhorias funcionais, cognitivas e comportamentais que esta criança agora passava a expressar. Sua atenção e concentração, bem como seu comportamento de modo geral, haviam melhorado sensivelmente. Isto correlaciona, também, com o desaparecimento do padrão de hipercoerência em Delta, indicando maior flexibilidade na dinâmica de recrutamento de áreas e estruturas corticais.
Vale mencionar, também, a precisão quase cirúrgica com que o treinamento neurológico atua. Ao mesmo tempo em que fornece as condições para que o cérebro aprenda a corrigir aspectos funcionais dissonantes, como os descritos anteriormente, faz isso preservando as características funcionais de alta performance que esta criança já possuía, especificamente ligada à velocidade da transmissão de informações em seu cérebro.
Divulgação
Leonardo Mascaro é psicólogo especializado em Neurofeedback nos EUA e mestre em Neurociências pela USP. Possui mais de 15 anos de prática clínica dedicados ao atendimento psicológico e de pacientes neurológicos. É autor do livro A Arquitetura do Eu, publicado pela editora Campus-Elsevier leonardo.mascaro@braintech.com.br
Fonte: Revista Psique

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