Como saber se tenho TDAH?
Desde a popularização do TDAH, é comum as pessoas comentarem que
apresentam características do Déficit de Atenção, ou que as observam em
seus filhos, e então procurarem profissionais em busca de tratamento. A
presença de apenas determinados sintomas, no entanto, não é suficiente
para que o Transtorno, de fato, esteja presente. Além disso, ele pode se
apresentar de formas diferentes: há TDAs em que são mais fortes os
sintomas de desatenção, enquanto em outros predomina a hiperatividade
associada à impulsividade. Há também casos em que esses sintomas todos
aparecem.
Segundo a Dra. Ana Beatriz, 6% da população em idade escolar
apresenta TDAH. Porém, ela esclarece que, como o TDAH se caracteriza por
uma alteração biológica no cérebro, ele não desaparece na vida adulta,
como se poderia imaginar. Os sintomas tendem, sim, a atenuar-se com o
tempo – mas, segundo a especialista, isso é resultado do amadurecimento
do indivíduo com relação a sua condição. Compreendendo mais claramente o
que tem de “diferente”, quem apresenta o TDAH se torna muito mais capaz
de ser feliz e bem resolvido.
Esse é o caso da própria Dra. Ana Beatriz, uma profissional
extremamente bem sucedida apesar do Transtorno. Ela conta que pequenos
detalhes rotineiros, como guardar suas chaves de casa sempre no mesmo
bolsinho interno em suas bolsas a ajuda a não perdê-las. A adaptação ao
TDAH também vem fazendo parte, de uma forma marcante, da rotina de
Fernando Narciso, de 28 anos. Ele conta que toma metilfenidato desde
criança e faz terapia cognitivo-comportamental. Mas ainda busca uma
melhor forma de se relacionar com o Transtorno. “Minha vida não é muito
diferente de quando era criança ou adolescente. Minha maior dificuldade é
quanto a relacionamentos. Não consigo fazer amizades com ninguém,
tampouco namorar, pois como fui muito achincalhado por colegas e
vizinhos na infância por ser, digamos, fora do normal, isso me
traumatizou de uma forma que eu criei uma barreira em torno de mim”.
Tem remédio?
A alteração física do cérebro como causa do TDAH não é unanimidade entre pesquisadores do assunto. Em 28 de janeiro de 2012, o New York Times
publicou um artigo de Alan Sroufe, professor emérito de Psicologia do
Instituto de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Minnesota,
intitulado A Ritalina deu errado.
No texto, ele critica o uso excessivo de remédios para combater o
Déficit de Atenção, lembrando que três milhões de crianças nos Estados
Unidos são medicadas com eles, e afirma que os estudos que procuraram
relacionar anomalias no cérebro ao desenvolvimento do Déficit de Atenção
não foram conclusivos.
Segundo Alan Sroufe, nunca se confirmou se as anomalias observadas já
estavam presentes no nascimento das crianças ou se seriam resultantes
de um trauma, estresse crônico ou de outras experiências na infância.
“Uma das descobertas mais profundas da neurociência do comportamento nos
últimos anos foi a clara evidência de que a experiência determina o
desenvolvimento do cérebro”, complementa. Para debater os problemas
advindos do uso excessivo ou desnecessário de medicamentos no combate a
transtornos – e, acima disso, a questão da classificação de algo que se
mostra diferente do esperado como “transtorno” – foi criado no Brasil o Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade.
A psicóloga Helena Rego Monteiro participa do Fórum. Ela explica que,
na visão dos participantes, o medicamento não deve ser a primeira
opção, quando há inúmeros aspectos a serem levados em consideração para
que o diagnóstico e o tratamento do TDAH sejam eficientes e positivos.
Helena reforça a ideia disseminada por Alan Sroufe em seu artigo no New York Times:
a de que não existe comprovação da ligação entre uma alteração
biológica do cérebro e o consequente desenvolvimento do TDAH nos
indivíduos.
Sempre que o assunto é o Déficit de Atenção, é associada a ele a
substância metilfenidato. No entanto, a Dra. Ana Beatriz destaca que
essa está longe de ser a única opção de remédio disponível para auxiliar
no tratamento do Transtorno: ela aponta cerca de seis outras
alternativas medicamentosas além dessa – que, ressalta, é recomendada
para quem é desatento e não indicada para quem precisa de tratamento
para a hiperatividade. O metilfenidato também não é recomendado para
uso crônico, ou seja, contínuo.
A especialista recomenda o uso de substâncias indicadas para outros
distúrbios, mas que se usadas em baixas doses têm se mostrado eficazes
no tratamento do TDAH. Esse é o caso do bupropiona, antidepressivo usado
para conter compulsões. Ela afirma que, enquanto no mercado a dose
desse medicamento corresponde a cerca de 150mg, pessoas com TDAH
costumam apresentar bons resultados a partir da administração de doses
de 30 a 60mg. Além de chamar a atenção para outras possibilidades além
do metilfenidato, a especialista destaca que há casos para os quais o
metilfenidato pode ser prejudicial, em vez de indicado. Isso ocorre, por
exemplo, com pacientes que apresentam Síndrome do Pânico e outros
transtornos associados.
A psiquiatra e escritora lembra ainda que nem só de medicamentos vive
o tratamento do TDAH, e indica a terapia cognitivo-comportamental, pois
é com esse acompanhamento que o portador do Transtorno terá a
capacidade de aumentar o conhecimento sobre si mesmo e aprender a viver
melhor. No momento do diagnóstico, é interessante a presença de um
psiquiatra infanto-juvenil. Trata-se de uma especialização ainda escassa
no Brasil, disponível apenas no estado de São Paulo, por enquanto. Na
opinião da Dra. Ana Beatriz, para se tornar capaz de fazer um bom
diagnóstico o especialista deve empenhar-se em conhecer de verdade o
assunto e ser, de preferência, um admirador do cérebro do TDAH – que ela
define como “um carro desgovernado que seus donos vão aprendendo a
dirigir”.
Casos de sucesso
Ao contrário do que possam acreditar os TDAs, especialmente quando
ainda estão na fase em que não compreendem os sintomas do Transtorno e
não sabem lidar com eles, quem tem Déficit de Atenção tem também uma
chance enorme de ser muito bem sucedido no que quer que decida fazer de
sua vida. Isso acontece porque, na realidade, esses indivíduos têm é um
excesso de atenção para o que lhes desperta o interesse.
É a Dra. Ana Beatriz que chama a atenção para a existência desse
“excesso de atenção” e para um outro fato: as pessoas com TDAH merecem
um cuidado maior com relação à busca e à detecção de seus talentos.
Elas, muitas vezes, têm mais dificuldade para identificar aquilo em que
podem ser bons. Fernando Narciso, por exemplo, apesar de ter dificuldade
em se relacionar com as pessoas ou se concentrar em tarefas rotineiras,
já descobriu que adora desenhar e escrever, entre outras atividades
artísticas. Uma de suas conquistas, à qual ele se refere como “o
orgulho” de sua vida, foi concluir um romance de quase 400 páginas, que
agora espera conseguir publicar.
Casos inspiradores de pessoas com problemas na escola e que tiveram
grande destaque em suas áreas profissionais são relatados de forma
divertida e inusitada pelo especialista britânico Ken Robinson em seu livro The Element – How Finding Your Passion Changes Everything (O Elemento – De que forma a identificação da sua paixão muda tudo),
numa tradução livre. Reconhecido em todo o mundo por suas ideias
revolucionárias voltadas para a educação e a inovação, Robinson afirma
basicamente que é a partir do encontro com seu talento intrínseco que
cada indivíduo consegue ser o melhor de si, alcançando a realização e a
felicidade. Se isso é importante para qualquer pessoa, para os que têm
TDAH é ainda mais. Afinal, sem investir naquilo que de fato os
interessa, a vida deles – aí sim – se transforma em um verdadeiro
transtorno.
Fonte: Site Opinião e Notícia
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