Síndrome do Glúten e alterações neurológicas
Fonte: Cláudia Marcelino
*Texto elaborado pela Nutricionista Barbara Rescalli Sanchez do Departamento Científico da VP Consultoria Nutricional.
O glúten é uma proteína que pode trazer uma série de complicações a
saúde humana. A mais conhecida é a doença celíaca (DC) que é uma
intolerância permanente ao glúten, caracterizada por atrofia total ou
subtotal da mucosa do intestino delgado proximal com conseqüente má
absorção de alimentos, em indivíduos geneticamente susceptíveis. (1-4)
O diagnóstico da DC se tornou mais fácil com o desenvolvimento de
marcadores sorológicos específicos para esta doença (5,6). Entretanto,
são formas de rastreamento, sendo imprescindível ainda a realização de
biópsia de intestino delgado (7).
Porém, estes métodos podem
ser efetivos apenas para diagnosticar a DC, mas a doença celíaca, ou
enteropatia sensível ao glúten, é apenas um aspecto de uma gama de
possíveis manifestações de sensibilidade ao glúten. A sensibilidade ao
glúten é uma doença auto-imune sistêmica com manifestações diversas e é
caracterizada pela resposta imunológica anormal ao glúten ingerido em
indivíduos geneticamente susceptíveis. (8)
O termo utilizado
para classificar a sensibilidade ao glúten em indivíduos não celíacos é a
“Síndrome do Glúten” (9), sendo que possíveis sintomas são: ataxia
(10), eczema (11) e síndrome do intestino irritável (12).
Não
há um mecanismo de ação completamente esclarecido para a Síndrome do
Glúten, entretanto há uma hipótese em que o glúten poderia causar danos
direta ou indiretamente às fibras nervosas que controla as funções do
intestino, que levaria à sintomas neurológicos primários encontrados
tanto na sensibilidade ao glúten quanto na doença celíaca. Sendo que o
funcionamento de nosso organismo (sistema cardiovascular, intestino,
bexiga, útero e glândulas) depende do sistema nervoso.
Esta
relação entre glúten e sistema nervoso parece ser evidente visto que
pacientes com doença celíaca apresentam alterações neurológicas (13,14).
Dentre as manifestações neurológicas mais presentes estão: a hipotonia,
atraso no desenvolvimento, distúrbios de aprendizagem, distúrbios de
atenção e hiperatividade, enxaqueca, cefaléia, ataxia e desordens
epiléticas (14,15)
Outros sintomas também são relatados na DC e
na sensibilidade ao glúten como as alterações motoras gastrintestinais
(retardo do esvaziamento gástrico, problemas de digestão de gorduras,
inchaço, constipação e diarreia) (9,16,17),
Níveis elevados de
IgG contra gliadina também foram relacionados com distúrbios
comportamentais como cansaço, letargia, irritabilidade e perturbação do
sono, além de refluxo gástrico. Sintomas estes que melhoram com a
restrição do glúten (18).
Portanto, a restrição do glúten, pode
servir como coadjuvante no tratamento de uma série de alterações
neurológicas presentes não apenas em pacientes celíacos, mas também em
indivíduos com sensibilidade ao glúten. Logo, o diagnóstico de pacientes
com a Síndrome do Glúten é fundamental para um tratamento nutricional
adequado e individualizado.
Referência Bibliográfica:
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Texto elaborado pelo depto. científico da VP Consultoria Nutricional. A
epidemia da obesidade tem sido amplamente reconhecida como um dos
principais problemas de saúde
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