quinta-feira, 28 de junho de 2012

Síndrome do Glúten e alterações neurológicas

Fonte: Cláudia Marcelino

*Texto elaborado pela Nutricionista Barbara Rescalli Sanchez do Departamento Científico da VP Consultoria Nutricional.

O glúten é uma proteína que pode trazer uma série de complicações a saúde humana. A mais conhecida é a doença celíaca (DC) que é uma intolerância permanente ao glúten, caracterizada por atrofia total ou subtotal da mucosa do intestino delgado proximal com conseqüente má absorção de alimentos, em indivíduos geneticamente susceptíveis. (1-4)

O diagnóstico da DC se tornou mais fácil com o desenvolvimento de marcadores sorológicos específicos para esta doença (5,6). Entretanto, são formas de rastreamento, sendo imprescindível ainda a realização de biópsia de intestino delgado (7).

Porém, estes métodos podem ser efetivos apenas para diagnosticar a DC, mas a doença celíaca, ou enteropatia sensível ao glúten, é apenas um aspecto de uma gama de possíveis manifestações de sensibilidade ao glúten. A sensibilidade ao glúten é uma doença auto-imune sistêmica com manifestações diversas e é caracterizada pela resposta imunológica anormal ao glúten ingerido em indivíduos geneticamente susceptíveis. (8)

O termo utilizado para classificar a sensibilidade ao glúten em indivíduos não celíacos é a “Síndrome do Glúten” (9), sendo que possíveis sintomas são: ataxia (10), eczema (11) e síndrome do intestino irritável (12).

Não há um mecanismo de ação completamente esclarecido para a Síndrome do Glúten, entretanto há uma hipótese em que o glúten poderia causar danos direta ou indiretamente às fibras nervosas que controla as funções do intestino, que levaria à sintomas neurológicos primários encontrados tanto na sensibilidade ao glúten quanto na doença celíaca. Sendo que o funcionamento de nosso organismo (sistema cardiovascular, intestino, bexiga, útero e glândulas) depende do sistema nervoso.

Esta relação entre glúten e sistema nervoso parece ser evidente visto que pacientes com doença celíaca apresentam alterações neurológicas (13,14). Dentre as manifestações neurológicas mais presentes estão: a hipotonia, atraso no desenvolvimento, distúrbios de aprendizagem, distúrbios de atenção e hiperatividade, enxaqueca, cefaléia, ataxia e desordens epiléticas (14,15)

Outros sintomas também são relatados na DC e na sensibilidade ao glúten como as alterações motoras gastrintestinais (retardo do esvaziamento gástrico, problemas de digestão de gorduras, inchaço, constipação e diarreia) (9,16,17),

Níveis elevados de IgG contra gliadina também foram relacionados com distúrbios comportamentais como cansaço, letargia, irritabilidade e perturbação do sono, além de refluxo gástrico. Sintomas estes que melhoram com a restrição do glúten (18).

Portanto, a restrição do glúten, pode servir como coadjuvante no tratamento de uma série de alterações neurológicas presentes não apenas em pacientes celíacos, mas também em indivíduos com sensibilidade ao glúten. Logo, o diagnóstico de pacientes com a Síndrome do Glúten é fundamental para um tratamento nutricional adequado e individualizado.

Referência Bibliográfica:
1. MEEWISSE, G.W. Diagnostic criteria in coeliac disease. Acta Paediatr Scand; 59:461-3,1970.
2. WALKER-SMITH, J.A. Celiac Disease. In:Walker WA, Durie PR, Hamilton JR, Walker-Smith JA, Watkins JB. Pediatric Gastrointestinal Disease. 2nd ed. St. Louis, Missouri: Mosby; 1996. p.840-61.
3. WALKER-SMITH, J.; MURCH, S. Coeliac disease. In: _______. Diseases of the small intestine in childhood. 4thed. Oxford: Isis Medical Media Ltd.; 1999. p.235-77.
4. PENNA, F.J.; MOTA, J.A.C.; FAGUNDES NETO, U. Doença celíaca. In: FAGUNDES NETO, U.; WHEBA, J.; PENNA, F.J. Gastroenterologia Pediátrica. 2°ed. Rio de Janeiro: Medsi; 1991. p.227-35.
5. MISRA, S.; AMENT, M.E. Diagnosis of coeliac sprue in 1994. Gastroenterol Clin North Am;24:133-143, 1995.
6. VON BLOMBERG, B.M.E.; MEARIN, M.L.; HOUWEN, R.H.J. et al. Serological assays for dignosing coeliac disease. Pediátrika; 16:367-71, 1996.
7. WALKER-SMITH, J.A.; GUANDALINI. S.; SCHMITZ, J. et al. Revised criteria for diagnosis of coeliac disease. Report of Working Group of European Society of Paediatric Gastroenterology and Nutrition. Arch Dis Child; 65: 909-11, 1990.
8. HADJIVASSILIOU, M.; SANDERS, D.S.; GRÜNEWALD, R.A. et al. Gluten sensitivity: from gut to brain. Lance Lancet Neurol; 9(3):318-30.
9. FORD, RPK. The gluten syndrome: A neurological disease. Medical Hypotheses; 73 (2009) 438–440.
10. HADJIVASSILIOU, M.; SANDERS, D.S.; WOODROOFE, N. Williamson C, Grünewald RA. Gluten ataxia. Cerebellum; 7:494–8, 2008.
11. HUMBERT, P.; PELLETIER, F.; DRENO, B. et al. Gluten intolerance and skin diseases. Eur J Dermatol; 16:4–11, 2006.
12. WAHNSCHAFFE, U.; SCHULZKE, J.D.; ZEITZ, M. et al. Predictors of clinical response to gluten-free diet in patients diagnosed with diarrhea-predominant irritable bowel syndrome. Clin Gastroenterol Hepatol; 5:844–50, 2007.
13. COOKE, W.T.; THOMAS-SMITH, W. Neurological disorders associated with adult coeliac disease. Brain; 89:683–722, 1966.
14. ZELNIK, N.; PACHT, A.; OBEID, R. et al. Range of neurologic disorders in patients with celiac disease. Pediatrics;113:1672–6, 2004.
15. BUSHARA, K.O. Neurologic presentation of celiac disease. Gastroenterology; 128:S92–7, 2005.
16. TURSI, A. Gastrointestinal motility disturbances in celiac disease. J Clin Gastroenterol; 38:642–5, 2004.
17. USAI, P.; USAI SATTA, P.; LAI, M. et al. Autonomic dysfunction and upper digestive functional disorder in untreated adult coeliac disease. Eur J Clin Invest; 1009–15, 1997.
18.HOFFENBERG, E.J.; EMERY, L.M.; BARRIGA, K.J. et al. Clinical features of children with screening-identified evidence of celiac disease. Pediatrics; 113: 1254–9, 2004.

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Texto elaborado pelo depto. científico da VP Consultoria Nutricional. A epidemia da obesidade tem sido amplamente reconhecida como um dos principais problemas de saúde

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