sexta-feira, 23 de setembro de 2011

INTEGRAÇÃO SENSORIAL


Quando os Terapeutas Ocupacionais (T.O) trabalham com crianças com Perturbação de Espectro Autista (P.E.A) utilizam a Integração Sensorial como forma de intervenção. A integração sensorial pode ser descrita como, a capacidade cerebral de organizar e interpretar estímulos externos como o movimento, o toque, o som, o cheiro, etc. Crianças com PEA tendem a apresentar problemas ao nível da Integração Sensorial não sendo capazes de por exemplo, processar as informações trazidas pelos seus cinco sentidos. A teoria da integração sensorial foi desenvolvida pela T.O Ayres para crianças com disfunções sensório-integrativas e com o objectivo de promover o desenvolvimento da percepção e organização do comportamento. A autora afirma que, a capacidade do indivíduo participar nos seus diferentes contextos estará dependente das capacidades neurobiológicas de processar e integrar informação sensorial, ou seja, para originar novas formas de interacção no ambiente a pessoa necessita de saber planear (planeamento motor) e sequenciar as actividades para as poder executar (Praxis). Crianças com PEA costumam apresentar défices ao nível dos quatro componentes que se seguem:


Registo Sensorial: Crianças com autismo parecem apresentar défices neste registo, levando a que, por exemplo, apenas prestem atenção a uma parte de informação visual e não prestar qualquer tipo de atenção a situações que normalmente despoletam a atenção das outras pessoas.
Modulação Sensorial: As crianças com PEA podem apresentar reacções de Hipersensibilidade ou de Hipossensibilidade a determinados estímulos. Por exemplo, estas crianças apresentam habitualmente hiperssensibilidade a inputs (estímulos) tácteis e auditivos, podendo assim, evitar o toque (defesa táctil) e serem perturbadas por alguns sons. Por outro lado as crianças podem apresentar o oposto, serem hipossensíveis necessitando de procurar estímulos e por isso gostam de sentir os objectos, gostam de ficar em locais apertados, pequenos e quentes. Praxis: Assim, tipicamente estas crianças são capazes de executar de forma calma e coordenada, actividades motoras que apresentam uma rotina, que são estereotipadas, ou seja, actividades onde a praxis não é necessária como, andar, correr, etc. Ayres enfatiza a importância de três sistemas:


O Sistema Proprioceptivo dá Informação sobre as sensações recebidas pelos tendões, músculos e articulações e sobre a posição das articulações e movimento. O sistema vestibular fornece informação sobre a posição da cabeça relativamente à gravidade. Estes dois sistemas proporcionam controlo postural e coordenação dos movimentos com os olhos, cabeça, pescoço e corpo. Crianças com autismo apresentam dificuldades na integração da informação vestibular e proprioceptiva, apresentando desta forma, problemas a nível do equilíbrio, do controlo postural, da coordenação dos movimentos do corpo e membros, ... Assim, o principal objectivo do T.O ao utilizar esta forma de intervenção é, estabelecer ou restituir um estilo de vida saudável para a criança e para a sua família envolvendo a criança em ocupações significativas ao proporcionar o desenvolvimento de Respostas Adaptativas. Os comportamentos ou respostas adaptativas correspondem a acções apropriadas onde o indivíduo responde eficazmente às exigências do meio. Para muitas crianças com autismo a terapia deverá começar pelo simples encorajamento de respostas adaptativas visto que, estas crianças apresentam distúrbios no registo sensorial e na ideação, necessitando de ajuda para realizar respostas adaptativas como, sentarem-se num balancé. Durante uma sessão de integração sensorial são utilizados diversos materiais com diferentes propósitos.


Como referido anteriormente, aquando da aplicação da integração sensorial é dado ênfase aos sistemas proprioceptivo, vestibular e táctil. Actividades como, saltar, subir, pendurar-se, empurrar, etc. irão propiciar a estimulação do sistema proprioceptivo. Existem alguns materiais mais direccionados para a estimulação deste sistema, como, trampolins, pneus, trapézios, escadas. Para a estimulação do sistema vestibular é necessário ser providenciada à criança equipamentos que lhe proporcionem movimentos rotatórios, lineares e orbitais e também a combinação dos mesmos. Para tal, são utilizados escorregas, barras suspensas, rede suspensa, cadeiras rolantes, plataformas suspensas, pranchas rolantes, etc.



 
Na intervenção com a integração sensorial as experiências tácteis são componentes essenciais, sendo a pressão profunda a primeira organização deste sistema. Materiais que promovem pressão profunda são por exemplo, almofadas pesadas, travesseiros largos, sacos com areia com diferentes pesos e escovas.
Deve também existir materiais que providenciem à criança o contacto com diferentes texturas e com materiais quentes e frios. Para tal materiais como, barris revestidos com diferentes tipos de carpetes, lençóis de flanela, cobertores, mantas, cremes, recipientes com areia, recipientes com arroz, recipientes com feijões, com água a diferentes temperaturas, amostras de roupas, objectos que proporcionem vibração, etc. devem estar presentes.
No inicio do processo de intervenção os pais e/ou cuidadores devem fazer parte deste, auxiliando o terapeuta a perceber quais as rotinas e pontos fortes da criança, visto que esta intervenção é delineada tendo em conta os pontos fortes da criança como forma de colmatar as suas dificuldades.




Conclusão: As crianças com PEA apresentam problemas na organização e interpretação da informação sensorial, não conseguindo perceber e registar os estímulos sensoriais, o que impede o processamento correcto da informação podendo resultar em situações de Hiperresponsividade ou de Hiporresponsividade, ficando assim, todo o processo de integração Sensorial comprometido. Desta forma, o T.O tendo em conta que o Sistema Nervoso Central (SNC) apresenta plasticidade (capacidade das estruturas do cérebro serem modificadas ou se modificarem), irá durante as sessões de Integração Sensorial, oferecer à criança, através de actividades, o uso repetido de estímulos sensoriais (proprioceptivos, vestibulares, tácteis) que irão promover mudanças no cérebro que proporcionarão uma organização do SNC assegurando o processamento correcto da informação sensorial inerente às actividades proporcionando uma resposta correcta ao estímulo apresentado. Quando esta terapia é bem sucedida pode desenvolver competências de atenção, concentração, audição, compreensão, equilíbrio e controlo da impulsividade. É necessário ter em conta que esta intervenção não irá directamente proporcionar à criança a aquisição de competências de um nível superior mas será a base necessária para que estas habilidades mais elaboradas se desenvolvam, como por exemplo a aprendizagem. Os pais das crianças com autismo e os seus filhos enfrentam desafios muito grandes para encontrar rotinas, experiências e actividades que proporcionarão satisfação e sucesso no dia-a-dia. Assim é necessário que os pais destas crianças sejam capazes de perceber a forma como a criança processa a informação sensorial, para poderem antecipar respostas da criança, evitar angústias e integrar nas rotinas diárias da família actividades baseadas no processamento sensorial e actividades que incluam planeamento motor. Uma outra lacuna de crianças com autismo é a fraca interacção destas com a comunidade que as rodeia. Assim torna-se também importante incorporar a integração sensorial nestes diferentes contextos, porém, tal torna-se extremamente difícil visto que são espaços menos controláveis e menos previsíveis. Deve então ser delineado um plano para indivíduos com autismo que levem à selecção das actividades e ambientes mais desejáveis e desenvolver estratégias para lidar com situações que são inevitáveis e que podem causar desconforto e confusão ao indivíduo com autismo.




Referências Bibliográficas: Miller-Kuhaneck, H. (2004). AUTISM A Comprehensive Occupational Therapy Approach.2ª edição.AOTA PRESS. Betheseda

1 comentários:

Anónimo disse...
gostei bastante, simples, direto e esclarecendo os objetivos propostos. Parabens!

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