As perturbações do espectro
autista enquadram-se no grupo de perturbações mais severas com que os
profissionais de saúde mental infantil têm de lidar.
fonte: http://floortimebrasil.blogspot.com.br/search?updated-min=2012-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2013-01-01T00:00:00-08:00&max-results=10
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A gravidade das repercussões no
funcionamento das crianças, em áreas como a socialização, a comunicação e a
aprendizagem, bem como as incertezas relativamente à etiopatogenia, diagnóstico
e prognóstico, fazem deste tipo de perturbação uma área de intenso estudo,
debate e preocupação tanto para os clínicos quanto para os investigadores
(Volkmar & Lord, 1998). Apesar da vasta literatura e programas de
intervenção que têm vindo a ser desenvolvidos, os resultados obtidos na maior
parte dos casos têm sido restritos (Harris, 1998).
Os esforços realizados ao nível
do diagnóstico precoce, bem como o aumento da preocupação por parte das famílias
e profissionais, tornaram evidente a insuficiência e inadequação dos modelos
terapêuticos das perturbações do espectro autista já existentes, quando
aplicados ao tratamento de crianças pequenas, e fizeram sentir
a
necessidade de desenvolver novos
programas de intervenção adaptados aos problemas e neces- sidades específicos
desta faixa etária (Charman & Baird, 2002).
Os recentes avanços na forma
como as perturbações do espectro autista são reconhecidas lançaram uma nova luz
sobre esta problemática. Assim, as Perturbações Multissistémicas do De-
senvolvimento (MSDD), uma categoria diagnóstica introduzida na Classificação
Diagnóstica DC: 0-3 (Zero to Three, 1994), surgem como uma resposta inovadora ao
valorizar a importância dos aspectos interactivos da relação sobre a
diferenciação emocional e cognitiva e, por outro lado, ao chamar a atenção para
o enorme potencial preventivo de uma intervenção nestas idades (Gonçalves &
Caldeira da Silva, 2001), na medida em que descrevem as dificuldades apresen-
tadas pelas crianças pequenas como muito dependentes da adequação do ambiente
relacional em que elas se encontram às suas características particulares de
reactividade, de processamento sensorial e da linguagem e de planeamento
motor.
S. Greenspan e colaboradores têm
vindo a desenvolver um modelo integrador da abordagem das perturbações da
comunicação e da relação, baseado numa perspectiva estruturalista do de-
senvolvimento, na certeza de que em todas as crianças existe alguma capacidade
para comunicar e que essa capacidade depende do seu grau de motivação
(Greenspan, 1992a; Wieder, 1992). Este autor propõe que a falha nuclear nas
crianças pequenas com perturbações multissistémicas do desenvolvimento consiste
numa incapacidade em ligar o afecto ou a intenção ao planeamento motor e à
simbolização emergente. Desta forma, as dificuldades na empatia, no pensamento
abstracto, nas competências sociais, na linguagem funcional, e na reciprocidade
afectiva, descritas nestas crianças, derivariam desta falha nuclear (Greenspan,
2001).
2. O MODELO
D.I.R.
O modelo D.I.R. (Modelo baseado
no Desen- volvimento, nas Diferenças Individuais e na Relação) é um modelo de
intervenção que tem vindo a ser desenvolvido, com a obtenção de re- sultados
encorajadores, pelo Interdisciplinary
Council on Developmental and
Learning Disorders (ICDL, 2000), dirigido por Stanley Greenspan e Serena Wieder,
nos EUA.
É um modelo de intervenção
intensiva e glo- bal, que associa a abordagem Floor-time com o envolvimento e
participação da família, com di- ferentes especialidades terapêuticas
(integração sensorial, terapia da fala) e a articulação e inte- gração nas
estruturas educacionais.
2.1. Abordagem
Floor-time
A abordagem Floor-time é um modo
de intervenção interactiva não dirigida, que tem como objectivo envolver a
criança numa relação afecti- va. Os seus princípios básicos
são:
- Seguir a actividade da
criança; - Entrar na sua actividade e apoiar as suas in-
tenções, tendo sempre em conta
as diferen- ças individuais e os estádios do desenvolvi- mento emocional da
criança;
- Através da nossa própria
expressão afectiva e das nossas acções, levar a criança a en- volver-se e a
interagir connosco;
- Abrir e fechar ciclos de
comunicação (co- municação recíproca), utilizando estratégi- as como o «jogo
obstrutivo»;
- Alargar a gama de experiências
interactivas da criança através do jogo;
- Alargar a gama de competências
motoras e de processamento sensorial;
- Adaptar as intervenções às
diferenças individuais de processamento auditivo e visuo- -espacial,
planejamento motor e modulação sensorial.
- Tentar mobilizar simultâneo
os seis níveis funcionais de desenvolvimento emocional (atenção, envolvimento,
reciprocida- de, comunicação, utilização de sequências de ideias e pensamento
lógico emocional) (Greenspan, 1992b; Greenspan & Wieder,
1998).
Em conjunto com as interacções
não directivas do Floor-time, devem ainda ser usadas interacções
semi-estruturadas de resolução de problemas em que a criança é levada a cumprir
objectivos específicos de aprendizagem através da criação de desafios dinâmicos
que a criança quer resolver.
2.2. Integração
Sensorial
A integração sensorial é o
processo neurológico através do qual o S.N.C. recebe, regista e or- ganiza a
informação sensorial que vai usar para criar uma resposta adaptada do corpo ao
meio ambiente (Ayres, 1979).
Na criança, défices no
processamento da informação e modulação sensoriais parecem ter consequências
emocionais e frequentemente levam a um défice na adaptação social, dificuldades
na relação com os outros, assim como a dificuldades em interpretar as reações
emocionais (Greenspan & Greenspan, 1989).
O tratamento/intervenção tem
como objectivo dar oportunidade para a integração da informação sensorial, no
contexto de actividades que tenham significado e sejam apropriadas para a
criança, facilitando o aparecimento de padrões de movimento de modo a conseguir
uma resposta adaptada, facilitando a interacção da criança com o
meio.
Esta resposta adaptada é a
resposta adequada em intensidade e duração a um «input» sensorial e é a base da
integração sensorial. Para que ela ocorra, é necessária uma participação activa
da criança na actividade, de modo a promover oportunidades diversificadas de
informação sensorial. As respostas adaptadas podem ser motoras e emocionais.
Neste contexto, é importante com- preender como é que os sistemas sensoriais
trabalham em conjunto e a sua influência no desenvolvimento.
A Integração Sensorial centra-se
em três sistemas sensoriais básicos:
- Táctil (processa a informação
que nos che- ga através da pele). Uma disfunção no sis- tema táctil pode
manifestar-se por uma sensação de desconforto ao ser tocado, por uma recusa em
comer alimentos com deter- minadas texturas, não gostar de determina- do tipo de
roupa, não gostar de lavar a cara ou a cabeça, evitar sujar as mãos e usar às
vezes um dedo ou as pontas dos dedos para manipular, em vez da mão toda. As
crian- ças podem ser sub- ou sobre-reactivas ao toque e à dor.
- Vestibular (processa
informação de movimento, gravidade e equilíbrio). Algumas crianças podem ser
sub-reactivas à estimu-
lação vestibular e terem medo de
actividades movimentadas (por ex., balanços, escorregas). Podem também ter
dificuldade em aprender a subir e descer escadas, andar em pisos irregulares, em
superfícies instáveis, etc. Outras crianças são sub-reactivas à estimulação
vestibular e procuram experiências sensoriais muito fortes tais como saltar
repetidamente ou rodopiar, a fim de estimular constantemente o sistema vesti-
bular.
- Proprioceptivo (processa a
informação da posição do corpo e membros, que recebe através dos músculos,
tendões e articulações). Quando o sistema funciona de ma- neira eficaz, o
indivíduo adapta-se de ma- neira automática às mudanças de posição do corpo. É
em grande parte o sistema res- ponsável pela capacidade de planeamento motor,
isto é a capacidade para sequenciar movimentos de forma ordenada para atingir um
objectivo. A disfunção no sistema proprioceptivo pode manifestar-se em crianças
desajeitadas com tendência para cair, com dificuldades na motricidade fina e
dificuldade em adaptar-se a situações novas.
Para cada criança são
estabelecidos objectivos específicos de tratamento incidindo a intervenção nas
seguintes áreas: processamento vestibular e proprioceptivo, processamento
táctil, planejamento motor, percepção visual, organização perceptivo-motora e
mecanismos de integração bilateral.
2.3. Terapia da
Fala
A Terapia da Fala com crianças
com Perturbação da Comunicação e da Relação tem que ser sensível às dificuldades
específicas da perturba- ção e às diferenças individuais de cada criança. Isto
pressupõe uma avaliação cuidada e muito mais abrangente do que com outras
patologias, uma vez que estas crianças apresentam graves alterações não só de
linguagem, mas de comuni- cação, nomeadamente da comunicação
não-verbal.
Estas dificuldades são evidentes
quer ao nível da compreensão – no processamento da informa- ção verbal e
não-verbal, quer ao nível da expressão – na utilização do gesto natural, do
gesto co-
dificado e da palavra para
entrar em comunicação com o outro.
Torna-se assim fácil de perceber
que as formas comunicativas mais usadas por estas crianças são formas
pré-simbólicas não convencionais (movimento global do corpo, grito, manipula-
ção).
Estas formas servem um leque
muito restrito de intenções comunicativas. As crianças usam a comunicação
quase exclusivamente para pedir objectos, pedir acções e rejeitar, ou seja, para
a categoria pragmática de Regular o Comporta- mento do Outro, mas não para as
categorias pragmáticas de Interacção Social – chamar a atenção para si – e de
Atenção Conjunta – orientar a atenção do outro para objectos e aconte- cimentos
interessantes, com o propósito de partilhar a experiência com essa pessoa
(Wetherby & Prutting, 1984).
A Terapia da Fala tem, assim,
como objectivo fornecer à criança instrumentos convencionais de comunicação,
pré-simbólicos e simbólicos, alargando as suas intenções comunicativas às ca-
tegorias pragmáticas não utilizadas.
Pretende-se que a criança comece
a usar ges- tos naturais como a alternância do olhar, o apon- tar
(proto-imperativo para a intenção comunica- tiva de Pedir e proto-declarativo
para a Atenção Conjunta), a expressão facial, o acenar com a mão e com a cabeça,
o beijar e abraçar, como formas comunicativas pré-simbólicas
convencionais.
Como objectivo último,
pretende-se que a criança venha a utilizar formas comunicativas simbólicas: a
palavra, o gesto codificado e o símbolo codificado. Para isso, é utilizado como
principal estratégia de intervenção o Programa de Linguagem do Vocabulário
Makaton, desenvolvido por Margareth Walker nos anos 70, que pressupõe a
utilização de gestos (retirados da Língua Gestual Portuguesa) e símbolos a
acompanhar a fala. A Terapeuta da Fala, os pais e os outros interlocutores são
liderados pela modalidade preferida pela criança, fornecendo-lhe estrutura e
consistência nas interacções comunicativas em todos os contextos. Nas crianças
que apresentam uma linguagem emergente com poucas palavras altamente funcionais,
este programa também é utilizado, pois fornece um meio de aumentar o vocabulário
e de iniciar a construção de frases.
Nas crianças verbais, a
intervenção da Terapeuta da Fala incide no desenvolvimento da compreensão e da
expressão verbal, essencial- mente nas suas vertentes Semântica e Pragmá- tica,
áreas sempre em défice. Também com as crianças verbais a comunicação não verbal
é tra- balhada em simultâneo.
Pretende-se que estas crianças
desenvolvam progressivamente uma motivação para comunicar, através de formas
comunicativas facilmente compreensíveis pelo outro, abram e fechem cada vez mais
ciclos de comunicação com os diferentes interlocutores, o que se vai traduzir
numa maior autonomia, funcionalidade e independência.
Para atingir estes objectivos
utilizam-se algumas estratégias:
- Introdução de uma terceira
pessoa na sessão, para servir de modelo de comunicação; - Partir dos interesses
individuais de cada
criança (personalização da
linguagem); - Dar intencionalidade e significação a todo
e qualquer sinal comunicativo; -
Criar situações facilitadoras da utilização
funcional da
comunicação/linguagem em
diferentes contextos; -
Utilização de suportes visuais à oralidade:
Gesto natural, objectos,
fotografias, ima-
gens, etc.; - Utilização de
comunicação aumentativa,
nomeadamente do Programa de
Linguagem do Vocabulário MAKATON, gesto codificado e símbolos gráficos, em
simultâneo com a fala;
- Redução da complexidade da
linguagem pelo terapeuta.
- Adaptação às competências
linguísticas da criança (nível da palavra isolada, duas pa- lavras, três ou mais
palavras);
- Ênfase na entoação, ritmo e
melodia (Pro- sódia);
- Ênfase na expressão facial e
mímica corporal.
2.4. Intervenção Social em
Rede
O apoio aos pais de crianças com
perturbação da comunicação e da relação visa essencialmente a formação de uma
rede social de suporte à família no seu todo, em que se procura valorizar
o
contexto em que esta se insere.
O foco da intervenção não é tanto a criança ou a própria família em si, mas
antes a integração dos vários sub- sistemas que com ela se relacionam e para ela
convergem: valências de carácter pedagógico e recreativo e as de cariz
profissional, político, re- ligioso ou cívico.
Para Ross V. Speck (1987), rede
social é um grupo de pessoas formado por membros da família, vizinhos e outras
pessoas susceptíveis de proporcionar a um indivíduo ou a uma família, uma ajuda
e um apoio efectivo e duradouro.
Esta abordagem sócio-terapêutica
tem uma dimensão comunitária e decorre sempre no terreno, preferencialmente na
escola onde a criança está inserida. Porém, antes de dar início a esta
intervenção, realizamos uma entrevista preliminar cujo objectivo é conhecer a
rede primária em que a família se encontra informalmente envolvida: familiares,
vizinhos, amigos e pessoas influentes. Em seguida procuramos caracterizar a rede
secundária de suporte social, esta de ca- rácter formal, composta por
instituições privadas ou públicas de referência para a família. Uma avaliação
cuidada das redes sociais permite-nos conhecer o contexto em que a família se
move, assim como determinar o nível de isolamento psicossocial em que se
encontra, indicador por excelência de inserção social de cada
família.
A experiência de serem incluídos
na rede, além de estruturante, traduz-se num reforço da auto-estima e visa
capacitar os pais, na medida em que eles próprios se converte em parceiros
sociais e agentes de mudança de todo este processo. O seu parecer é valorizado e
procura-se envolvê-los nas tomadas de decisão quanto à trajectória
psicopedagógica que em conjunto é traçada para a criança.
Ao constituir-se a Rede Social
onde todos os parceiros estão envolvidos (educadores de infância, terapeutas,
pais e familiares), é de fundamental importância haver um gestor cuja função é
articular, coordenar e dinamizar todo o processo em curso, conferindo amplitude
e coesão à rede. Com este tipo de intervenção verifica-se um acréscimo dos
factores de protecção e assiste-se a uma redução dos factores de risco até aí
presentes na situação (Roncon, 1995). Aos sentimentos de desmoronamento e
impotência revelados inicialmente, sobrepõe-se o sentimento de pertença a um
todo, uma espécie de ninho que
irá constituir uma base de
sustentação e de in- fluência assim como um meio impulsionador ao
desenvolvimento infantil.
Assim, pais e familiares,
técnicos e outros parceiros comunitários são interpelados a construir um
projecto comum para a criança, num esforço conjunto de solidariedade e exercício
de cidadania.
3. DESCRIÇÃO DO
PROGRAMA
Partindo dos pressupostos acima
referidos, projectamos uma intervenção clínica intensiva, o Programa de
Estudo e Intervenção nas Perturbações da Relação e da Comunicação, que teve
início em Novembro de 1997.
Este programa funciona através
de uma associação privada sem fins lucrativos, a Associação de Apoio à Unidade
da Primeira Infância (AAUPI), em horário pós-laboral, com o apoio da Unidade da
Primeira Infância. Desde Novem- bro de 2002, está também a funcionar um pólo do
programa na margem sul do Tejo, em colaboração com a Equipa dos Apoios
Educativos do Seixal.
Da equipa técnica fazem
parte:
- Um Psiquiatra da Infância e
Adolescência (Coordenador);
- Quatro Psicólogas Clínicas; -
Três Terapeutas Ocupacionais; - Duas Terapeutas da Fala.
O programa destina-se a crianças
com diagnóstico de Perturbação Multissistémica do De- senvolvimento, padrão A ou
B segundo a classificação diagnóstica DC: 0-3, (Zero to Three, 1994), depois de
um mínimo de 10 sessões de observação (2 meses) na Unidade da Primeira Infância,
com idade inferior a 4 anos e com orga- nização familiar suficiente para
garantir uma frequência regular.
As crianças são avaliadas pelo
coordenador do programa. A avaliação clínica inclui também avaliação do
desenvolvimento, que é feita por uma psicóloga clínica, sempre que possível
através da Escala de Desenvolvimento de Griffith’s, avaliação neurológica e da
audição, despiste da deficiência mental, e a administração da
«CARS
– Childhood Autism Rating Scale»
(Schopler et al., 1980).
Cada criança tem três sessões
semanais de floor-time, com uma Psicóloga e duas sessões de integração sensorial
com uma Terapeuta Ocupacional. Após um período inicial, os pais ou ou- tras
figuras representativas são convidados a participar nas sessões. Quando a
comunicação emerge de forma suficiente, adiciona-se uma ou duas sessões semanais
de terapia da fala. Os pais recebem apoio individual na UPI, se assim o
desejarem. A duração da intervenção é, no mínimo, de dois anos.
Para além disso, a equipa
técnica promove reuniões regulares de articulação com os técnicos dos Jardins de
Infância, com a participação dos pais, dentro do modelo de intervenção social em
rede, com a colaboração da Técnica de Serviço Social e da Enfermeira
Especialista da UPI.
Realizam-se ainda reuniões
periódicas (de dois em dois meses) com os pais em grupo. Nestas reuniões, que
são de tema livre, os pais são convidados a falar sobre as suas dificuldades,
experiências e conquistas relativamente aos seus filhos, o que tem funcionado de
uma forma informal como grupo de inter-ajuda.
Paralelamente, a equipe tem
desenvolvido
algumas ações de formação junto
de pais e técnicos que lidam com crianças com este tipo de per- turbação
(psicólogos, pediatras, psiquiatras, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e da
fala, educadores e professores, entre outros) com o objectivo de divulgar este
modelo de intervenção e fornecer algumas estratégias facilitadoras no trabalho
com estas crianças.
4. DESCRIÇÃO DAS
CRIANÇAS
Das 22 crianças inscritas no
programa desde o seu início já saíram 10, das quais oito com mais de dois anos e
duas com menos de dois anos de programa. Actualmente beneficiam da intervenção
12 crianças, 9 rapazes e 3 garotas. Todas estão integradas em Jardim de Infância
regular, na sua maioria com apoio individualizado.
Os Quadros 1 a 3 apresentam uma
caracterização sumária das crianças.
5. RESULTADOS
O programa tem agora cinco anos
de funcionamento.
QUADRO 1
Idade Atual e Tempo de
Permanência no Programa
MESES 31-35 36-48
Idade Tempo
no Programa
49-60 60-71 0-6 6-24 24-30
N 3333462
QUADRO 2
Cotação Inicial com a Escala
C.A.R.S.
Autismo Ligeiro a Moderado Autismo
Severo
COTAÇÃO 32-37 37.5-49.5
N 10 12
QUADRO 3
Distribuição diagnóstica DC:
0-3, Eixo I – Diagnóstico Principal 700. Perturbação Multissistémica do
Desenvolvimento
Padrão A Padrão
B
N 6 16
QUADRO 4
Evolução Global das Crianças
Inscritas (n=18; 4 crianças com menos de 6 meses de
programa)
Evolução
Má Razoável Boa/Muito
Boa
N684
Instrumentos sensíveis e não
enviesados na avaliação da eficácia terapêutica, bem como na seleção de grupos
homogéneos e comparáveis (Tsakiris, 2000). No entanto, os dados da avalia- ção
feita nos domínios do Desenvolvimento Funcional Emocional (eixo V da DC: 0-3),
da Integração Sensorial e da Terapia da Fala, bem como as informações dos pais,
a adesão ao tratamento e a nossa impressão clínica, sugerem fortemente a
utilidade deste modelo de intervenção.
Todas as crianças têm registado
progressos observáveis embora de nível variado no humor, na relação e adequação
social, na comunicação, na adaptabilidade às mudanças, nas competências motoras
e no processamento sensorial. Em relação ao desempenho cognitivo, no entanto,
temos verificado que muitas crianças mantêm dificuldades. Estas dificuldades no
desempenho cognitivo nem sempre estão em correspondência com os resultados
apresentados na avaliação inicial, o que vem reforçar a noção da dificuldade em
estabelecer prognósticos mesmo após um período de avaliação inicial
extenso.
O Quadro 4 apresenta a
distribuição da evolução global das 18 crianças que beneficiaram do programa,
até ao momento, por um período superior a seis meses, tendo em consideração
critérios clínicos de número e intensidade dos sinto- mas, competências
cognitivas, sociais, de comu-
nicação e motoras, adaptação
escolar (percurso académico e necessidade de apoio) e adaptação
familiar.
6. CONCLUSÃO
A abordagem Floor-time e o
Modelo DIR constituem, no estado actual do conhecimento, a resposta mais
adaptada à pratica clínica com bebés e crianças pequenas com perturbações da co-
municação e da relação. Apesar das dificuldades inerentes à aplicação de um
programa de inter- venção intensiva com custos elevados para as famílias do
ponto de vista material, de disponibi- lidade e organização, a experiência tem
demonstrado, tanto pela clínica como pela adesão das famílias e dos técnicos,
que este é um modelo útil e suficientemente eficaz para ser recomendada a sua
aplicação e divulgação.
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National Center for Clinical Infant Programs (1994). Diagnostic
Classification of Mental Health and Developmental Disorders of Infancy and Early
Childhood. Arlington, VA.
RESUMO
As perturbações do espectro
autista enquadram-se no grupo de perturbações mais severas com que os
profissionais em saúde mental infantil lidam, dadas as suas repercussões no
funcionamento da criança em áreas como as da socialização, comunicação e
aprendizagem e a incerteza relativamente ao prognóstico.
S. Greenspan e colaboradores
desenvolveram um modelo explicativo para estas perturbações baseado numa
abordagem desenvolvimental e estruturalista e na certeza de que em todas as
crianças existe alguma capacidade para comunicar e que essa capacidade depende
do seu grau de motivação e de envolvimento afectivo.
O Modelo D.I.R.
(Desenvolvimento, Diferenças Individuais e Relação) é um modelo de intervenção
resultante destes pressupostos teóricos que engloba a abordagem Floor-time e
diferentes especialidades terapêuticas (integração sensorial, comunicação
aumentativa).
Através da Associação de Apoio à
Unidade da Primeira Infância, foi criado um programa intensivo de intervenção
clínica baseado nestes princípios.
O artigo apresenta a descrição
do programa, das crianças e da sua evolução em termos de desenvolvimento e
adaptação social e emocional.
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