quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Dez coisas que todas as crianças com autismo gostariam que as pessoas soubessem:



1- Antes de tudo sou uma criança

     As crianças que têm perturbações do espectro autista, não são exclusivamente "Autistas". O autismo é só um aspecto do seu carácter e não as define como pessoas. As pessoas têm pensamentos, sentimentos e talentos, não são somente gordas, magras, altas, baixas, míopes. Talvez estas sejam as características a que estamos atentos quando conhecemos alguém, mas isso não é necessariamente o que as pessoas são. Os adultos têm algum controlo de como se auto-definem. Se querem excluir uma característica, podem expressar-se de maneira diferente. As crianças ainda estão a descobrir. Ninguém pode saber do que elas são ou não capazes. Definir estas crianças somente por uma característica, acaba-se por correr o risco de manter expectativas que serão pequenas. Se elas sentirem que as pessoas acham que não podem fazer algo, a sua resposta naturalmente será: Para quê tentar?


2- A minha percepção sensorial é desordenada

     A integração sensorial pode ser o aspecto mais difícil para se compreender o autismo. Sentidos como a audição, o olfacto, o paladar, o toque, as sensações que passam desapercebidas no dia-a-dia das pessoas, podem ser dolorosas. Estas crianças podem parecer distraídas, como se estivessem noutro planeta mas só estão a tentar defender-se. Uma simples ida ao supermercado pode tornar-se num inferno. A audição pode ser muito sensível: pessoas a falar ao mesmo tempo, música, anúncios, barulho da caixa registadora, telemóveis a tocar, crianças a chorar, luzes fluorescentes podem ser bastante incomodativos. O cérebro não consegue assimilar todas estas informações, provocando, então, uma perda de controlo. O olfacto pode ser muito sensível, também: o peixe que está à venda na peixaria não está fresco, a pessoa que está ao lado pode não ter tomado banho, o bebé ao lado pode estar com uma fralda suja, o chão pode ter sido limpo com lixívia. Não conseguem separar os cheiros e começam a sentir-se mal. A visão é o sentido principal, podendo assim, ser o primeiro sentido a ser sobrestimulado.  A luz fluorescente pode não só ser muito brilhante, como pisca e pode fazer um barulho, o espaço parece estar sempre a mudar, são muitos estímulos, ao mesmo tempo, para que se consigam concentrar, o ventilador, as pessoas a andar de um lado para o outro. Tudo isto afecta os sentidos, podendo levar a uma perda do esquema corporal.


3- Por favor, lembre-se de distinguir entre “eu não quero fazer” e “eu não consigo fazer”.

     Perceber e expressar a linguagem e vocabulário pode ser muito difícil para as crianças com PEA. Elas ouvem as frases, só não as conseguem compreender. Quando alguém as chama do outro lado do quarto, elas escutam o seguinte: "BBBFFFZZZZSWERSRTDSRDTYFDYT João". Ao invés disso, é necessário falar directamente, com um vocabulário simples: "João, por favor, coloca o livro na estante. Está na hora de almoçar". Isso pode fazê-las perceber o que as pessoas querem que elas façam e o que vai acontecer depois. Assim, é mais fácil compreender.
 

4- Eu sou um "pensador concreto". O meu pensamento é concreto, não consigo fazer abstracções.

     Estas crianças interpretam muito pouco o sentido oculto das palavras. É muito confuso para elas quando alguém diz: “isso é canja” quando o que querem dizer é: “isso é fácil.” Gírias, piadas, duplas intenções, paráfrases, indirectas, sarcasmo: não conseguem perceber.


5- Por favor, tenha paciência com o meu vocabulário limitado

     Exprimir o que sentem por palavras é algo extremamente difícil para estas crianças. Podem estar com fome, sentirem-se frustradas, com medo e confusas, mas estas palavras estão além das suas capacidades, do que podem expressar. Por isso, é necessário prestarmos atenção à linguagem do seu corpo (retracção, agitação ou outros sinais de que algo está errado).
 
   

Por um outro lado, podem, por vezes proferir palavras acima da sua capacidade dentro da sua idade. Na verdade, são palavras que memorizam do mundo ao seu redor para compensar o seu défice ao nível da linguagem. As palavras difíceis que de vez em quando declaram podem surgir de livros, televisão, ou até mesmo serem palavras de outras pessoas. Estas crianças não compreendem o contexto das palavras que usam. Elas só sabem que devem dizer algo.

6- Eu sou muito orientado visualmente  porque a linguagem é muito difícil para mim

     Devemos mostrar como fazer alguma coisa ao invés de, simplesmente, o dizer. É essencial estarmos preparados para exemplificar muitas vezes. Repetições consistentes ajudam muito no processo de aprendizagem. Um esquema visual ajuda muito durante o dia-a-dia, alivia à criança o stress de ter que lembrar o que vai acontecer e ajuda bastante na transição de uma actividade para outra, ajuda-a a controlar o tempo, as suas actividades e a alcançar as suas expectativas. As crianças com PEA não perdem a necessidade de ter um esquema visual apenas porque crescem, contudo, o seu nível de representação pode mudar. Antes de ler, precisam de um esquema visual com fotografias ou desenhos simples. Com o decorrer do desenvolvimento, uma combinação de palavras e fotos podem ajudar mais tarde a conhecer as palavras.


7- Por favor, preste atenção e diga o que eu posso fazer ao invés de só dizer o que eu não posso fazer

     Como qualquer outro ser humano, as crianças com PEA não podem aprender num ambiente onde sempre se sintam inúteis, a pensar que há algo de errado com elas. Nascem assim pensamentos, tais como: “para quê tentar fazer alguma coisa nova quando sei que vou ser criticado?”. Devemos procurar o potencial destas crianças e, certamente, iremos encontrar muitos!


8- Por favor, ajude-me com interacções sociais

     Pode parecer que não querem brincar com as outras crianças no parque, mas frequentemente, simplesmente não sabem como começar uma conversa ou entrar na brincadeira. Se encorajarmos outras crianças a convidarem estas crianças para jogar futebol ou brincar com carrinhos, talvez fiquem muito felizes por serem incluídas. As crianças com PEA não sabem "ler" a expressão facial, a linguagem corporal ou as emoções de outras pessoas, por isso devemos ensinar estas crianças a responderem socialmente. Por exemplo: se ela se ri porque uma criança caiu do baloiço, não é porque acha engraçado, simplesmente não sabe agir socialmente. Devemos ensiná-las a perguntar: “está tudo bem?”

9- Tente encontrar o que provoca a minha perda de controlo

     A perda de controlo, birras, má-criação e escândalos são horríveis para as crianças com PEA. Estes comportamentos acontecem pois um ou mais dos seus sentidos foram levados ao extremo. Se conseguirmos descobrir o que causa a perda de controlo, isso poderá ser prevenido ou até evitado. Manter um diário de horas, lugares, pessoas e actividades é essencial. É bom lembrar que todo o comportamento é uma forma de comunicação, pois transmite o que as palavras não dizem.


10- Se és da minha família, ama-me sem nenhuma condição

     Devemos eliminar pensamentos como "se ele pelo menos pudesse…" ou "porque ele não pode…" Quando não atendemos às expectativas que os nossos pais tinham, não gostamos de ser sempre lembrados disso. Estas crianças não escolheram ser autistas. Sem ajuda, as hipóteses de alcançar uma vida adulta dependente e autónoma, será pequena.
     Finalmente, três palavras mágicas: Paciência, Paciência, Paciência. Ajuda a ver o meu autismo como uma habilidade diferente e não uma debilidade. Devemos olhar por cima do que achamos que seja uma limitação. O que o futuro tem guardado para as crianças com PEA está no próprio futuro.


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