quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Texto da Patrícia Piacentini sobre Floortime e Integração Sensorial

Novo e Velho


Reflexões
                  
Hoje nós temos a oportunidade de redefinir as intervenções que acomodam as crianças com desafios no desenvolvimento.
Estamos numa fase que a acomodação individualizada está sendo necessária para a construção de um ambiente justo.
No entanto, refletindo sobre o passado, vejo que existiam modelos, como o velho método comportamental, que trabalhou por muito tempo as redondezas superficiais do comportamento, aprisionando e limitando várias crianças.
No fundo, talvez tenhamos que agradecer ao que existia. Mas hoje, eu reflito muito sobre os danos causados às crianças que passaram por comandos. Tenho pensado bastante sobre as limitações na linguagem e na construção de iniciativas no trabalho com essas crianças. Tenho repetido a mesma palavra em cada workshop que vou: “INICIAÇÃO, INICIAÇÃO! Deixem que eles iniciem! Esqueçam o comando! Dêem o tempo necessário para a individualização sensorial, deixe a criança processar! O tempo dela não é o seu tempo!”
Ainda divagando sobre o assunto, me chama a atenção outro modelo antigo que persistente aqui no Brasil, são os modelos Cognitivos. Nele a criança é o tempo toda estimulada com jogos educativos, com o intuito de crescer cognitivamente. Aí eu fico pensando: desde quando as relações humanas foram estimuladas por jogos educativos, como o quebra cabeça? O que seria dos modelos cognitivos sem uma mesa, será que existiriam? Será que vemos voluntariedade nessas crianças ao sentar para iniciar essa atividade? Na hipótese do quebra-cabeça favorecer cognitivamente, esse auxilia na construção do vinculo afetivo com o terapeuta? A minha opinião diante disso tudo é que a responsabilidade do terapeuta não é focalizar a construir do cognitivo por si mesmo, mas alcançá-lo desenvolvendo as relações sócio-emocionais.
Agradeço aos desenvolvimentalistas, aos construtivistas e a todos os outros “ïstas” existentes. Como é bom perceber que a mente e o cérebro funcionam de forma individual, respeitando limites sensoriais e relações emocionais.
Como e bom saber a importância desses princípios para a estimulação das habilidades mentais dessas crianças. Por essa razão os seis níveis de desenvolvimento descritos por Dr. Greenspan, no seu livro “The child special Needs”, tem sido a ancora do meu trabalho.
Revendo esses seis níveis, fica bem mais fácil identificar os níveis de desenvolvimento que cada criança possa estar.
1.    Interação com amor e segurança com regulação (respeitando tempo e processamento da criança)
2.     Interação respeitando as relações de engajamento
3.     Interação respeitando círculos de comunicação (deixando a iniciação acontecer)
4.     Interação que buscam soluções de problemas (levando a criança a solucionar os problemas      básicos) imitar para ser imitado
5.     Interação que buscam o uso das idéias em um ambiente seguro
6.     Interação que sugerem e tragam pensamento críticos e lógico

O que vejo e quando as interações trocam emoções por menores que sejam o produto deixa de ser a prioridade e ai todos se envolvem no processo da construção daquele ser.
Como profissional e pessoa, eu guardo a esperança que um dia a vida seja mais do que simplesmente seguir comandos. Sinceramente, desejo que os velhos modelos,que julgam cientifico, reflitam sobre a importância das relações sócio-emocionais principalmente dentro do espectro autista.
Se pudéssemos convencer o mundo da importância de poder integrar e modular sentidos para a construção do que somos e agimos, o lado cognitivo e comportamental faria bem mais sentido do que uma equação superficial que trazem os estudos científicos. O que eu vejo, muitas vezes, é que o comportamento hiperativo e agressivo, esconde o desconforto sensorial de muitas dessas crianças. A avaliação cognitiva não tem o mínimo valor quando uma criança se encontra com o emocional em pedaços.
Resumindo, o que vi nesses últimos meses, na minha turnê pelo Brasil, foram crianças esgotadas mentalmente por determinados sons, cores e um universo cheio de atividades e comandos. Vi também, planos cognitivos maravilhosos que necessitariam “apenas” de um excelente plano motor (práxis) para ser sucesso. Vi crianças que estão sendo submetidas a um fracasso diário acadêmico por não serem individualizadas em currículos pedagógicos, devido à falta de Legitimação do que a criança não pode fazer ao que ela não quer fazer.
Assim deixo essa sugestão aos pais e profissionais: antes da elaboração de qualquer plano de ação, faça uso de nosso guarda-chuva do desenvolvimento e avalie a criança na sua individualidade biológica, sensorial, cognitiva e ambiental. E mãos a obra!

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