terça-feira, 24 de julho de 2012

Sinto falta de ter um inimigo

Eu, grávida de 9 meses
Ontem, lendo depoimentos de outras mães na internet, já tarde da noite, garimpando coisa nova na rede sobre autismo, vi um bate-papo em um dos grupos do yahoo que eu participo (chama-se Autismo Esperança, para quem quiser dar uma olhada), e me dei conta que um dos maiores problemas de ter um filho autista é você não ter um inimigo a combater. No fundo são vários e no final das contas não é nenhum.

É uma síndrome da qual se sabe muito pouco até hoje. Não é como o Down, por exemplo, que você sabe que é uma anomalia no cromossomo 23 e sabe o que esperar desse filho (embora tenhamos de buscar sempre mais). Não estou dizendo que seja mais fácil, nem mais difícil. Mas é uma síndrome da qual se conhece a causa e a origem. Para outras várias, existe a ritalina e seus afluentes (em alguns casos usados em demasia, mas isso é assunto para um outro post). E as crianças melhoram muito com a medicação.

O mesmo não se pode dizer do autismo. Medicação não cura autismo. Melhora a hiperatividade e a concentração, mas acho que tem de ser o último recurso, depois de se esgotar todas as tentativas com tratamento biomédico, alimentação e suplementação e, ainda assim, depois dos 6 anos de idade. Qualquer coisa antes disso é jogar roleta-russa.

Ok, existe um componente genético, mas já encontraram mais de 65 genes ligados ao espectro, ou que sofreram mutações que geram comportamento autístico, e há milhões de combinações possíveis entre esses genes. O componente genético está lá quieto, na dele, até que alguma coisa dispara os sintomas. É como a diabete, por exemplo. Você nasce com o "kit". Mas se tiver uma vida regrada, se alimentar bem e fizer exercícios, o kit morre com você fechadinho, sem ser usado. Se levar uma vida desregrada, o kit é aberto e a diabete aparece.

É o mesmo com o autismo. Com o agravante de que são muitas as causas que podem abrir esse kit (e ele só é aberto até 2 anos e meio, 3 anos)... Pode ser o mercúrio das vacinas - que é expelido do organismo por 90% da população, mas se aloja no cérebro de 10% dela -; o excesso de toxidade em alimentos e produtos de limpeza, por exemplo; pode ser intoxicação por antibióticos ou metais pesados; uma dor de ouvido mal-curada, pode ser papinha mal conservada, a batata da sopinha que tinha agrotóxico demais, o peixe que você preparou com carinho, achando que estava dando ômega 3, mas que também tinha mercúrio, a intolerância a glúten e caseína, proteínas que, quando não são quebradas no organismo, viram veneno para o cérebro...já ouvi palestrante dizer que estresse emocional pode desencadear características autísitcas. Como o virtiligo muitas vezes aparece, após um estresse.

Tudo isso, combinado a um ambiente propício (genético), vira uma bomba que pode detonar e ser uma das causas do autismo. Considerando-se que vivemos em um mundo cada vez mais tóxico, não me estranha ver que autismo já é considerado epidemia nos EUA (provavelmente o país mais tóxico do mundo, onde se come mais besteira e se consome conservantes), onde uma a cada 88 crianças está no espectro.

E aí, você fica querendo descobrir em que momento esse cérebro foi agredido: se foi na gravidez, no parto, no fato de ele ter nascido prematuro, durante os primeiros meses, depois de um ano de idade... Eu me pego às vezes deitada na cama tentando dormir e relembrando minha gravidez e os primeiros meses do Luca como se fosse um filme na minha cabeça. Não é a toa que o símbolo do autismo é um quebra-cabeças.






Não bebo, não fumo, nunca usei drogas. Fui atleta durante um bom tempo. Sempre malhei e não sou fresca para comer. Como de tudo: frutas, verduras, legumes.... Mesmo assim, tento me lembrar se fiz alguma coisa errada com o Luca dentro da minha barriga (como na foto do início do post) e depois do nascimento dele: se eu usei adoçante (que é um veneno para o cérebro de qualquer feto e bebê), se eu tomei todos os meus comprimidos de ácido fólico, se a tinta da parede do apartamento que a gente morou na Savassi, que era antigo, poderia ainda ser á base de chumbo, se eu verifiquei a data de validade de tudo o que eu dei para o meu bebê, se eu passei por situações de estresse (sou jornalista, estresse é o meu sobrenome).... se o parto foi tranquilo - o Apgar do Luca foi 9, depois 10, eu até hoje eu sou cismada que ele respirou com dificuldade nos primeiros minutos de vida.... Depois de pensar, pensar, pensar, durmo exausta e sem respostas.

Ontem, uma mãe disse no grupo do yahoo ter ficado feliz por ter encontrado no seu filho taxas altas de metais pesados. Parece contraditório, mas ela explica na sequência: "Agora eu tenho contra quem lutar, tenho um inimigo para combater". O tratamento é a quelação, que é muito delicado e extremamente perigoso. Mas ainda assim, para essa mãe, foi reconfortante ter respostas, saber de onde veio e dar um nome ao inimigo. Confesso que sinto falta de ter um inimigo. Enquanto ele não aparece, vou me enchendo de amigos: terapeutas, médicos, professoras, mediadoras, amigas do face, amigas de chorar no ombro, meu pai, meu marido, meus amigos do Seara Fraterna, minha família que está longe, mas acima de tudo, contra o autismo, hoje eu tenho quatro amigos que faço questão de carregar todos os dias, e que me ajudam demais para buscar a o melhor para o meu Luquinha: informação, coragem, fé e esperança!

Beijo especial sempre aqui, na querida Pracinha!

http://www.napracinha.com.br/2012/07/maes-especiais-sinto-falta-de-ter-um.html

2 comentários:

  1. Adorei seu comentário,é assim mesmo que agente se sente, sem saber contra o que lutar, mas a fé move montanhas, parabéns por esse novo bebe que esta para chegar!beijooo

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  2. Na verdade a sociedade quer um inimigo pra tudo chamam de justiça matar alguém que matou alguém qdo na verdade isso é vingança, sentimos essa falta de administrar a culpa a alguém pq no fundo somos todos imaturos demais para conviver com essa culpa 100%sem respostas, mas devo confessar q tbm procurei muito esse tal inimigo, hj tento apenas viver sem a culpa...

    Amei o texto, bjos!!!!

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