Rio -  Felipe não para quieto. Está sempre a mil por hora e só se desliga quando dorme. Não presta atenção em nada e vai mal no colégio. Ana, de 15 anos, até pouco tempo era alegre e divertida. Hoje se mostra desmotivada e desatenta. Histórias como as de Felipe e Ana são mais comuns do que se pensa.

São crianças e adolescentes que sofrem de transtornos psicológicos; uma lista grande, que inclui déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), bullying, dislexia, anorexia, depressão, entre outros. Porém todos têm solução, diz o psiquiatra Gustavo Teixeira, que acaba de lançar “Manual dos transtornos escolares - Entendendo os problemas de crianças e adolescentes na escola” (BestSeller).
Membro da Academia Americana de Psiquiatria para Infância e Adolescência, Teixeira afirma que 20% de crianças e adolescentes no mundo precisam de alguma ajuda na área de saúde mental. E o diagnóstico da queixa depende de detalhado estudo clínico e avaliação comportamental completa; envolvendo família, pais e professores.

Isso para não correr o risco de a criança ter um diagnóstico errado. Pesquisa da Anvisa mostrou que o consumo da droga tarja preta para TDAH aumentou 75% na faixa de 6 a 16 anos, entre 2009 e 2011, no Brasil. Segundo Teixeira, a incidência mundial de TDAH fica em torno de 4% da população. “Temos um número grande de casos de TDAH não diagnosticados, não tratados. Por outro lado, é possível que existam erros no diagnóstico, porque há poucos especialistas. A medicação, bem indicada, é segura e eficaz”.

Ele lembra que outro transtorno que merece atenção na infância é a depressão, que tem incidência de 2%, aumentando para até 6% entre adolescentes. “Tive pacientes de 4 anos com depressão. O tratamento em casos leves e moderados inclui terapia cognitivo-comportamental e orientação à família e à escola. Em situações graves, pode-se receitar antidepressivos”.
Já o transtorno bipolar do humor tem diferenças quando comparado ao do adulto. Irritação explosiva, impulsividade, alterações súbitas de humor, menos necessidade de sono e agressividade são alguns dos sintomas, alerta Teixeira. “Quanto mais cedo os transtornos são tratados, melhor o resultado. Daí a importância de pais, responsáveis e professores não negligenciarem mudanças de comportamento em seus filhos”.

Escola deve debater o tema em sala
O bullying, termo do inglês que define comportamento violento dos estudantes, é um dos transtornos que mais preocupa pais e professores; diante dos atos de agressão física, verbal ou moral, praticados de forma repetitiva, sem motivação evidente.

“Hoje, o que mais cresce é o bullying na internet. Casos graves estão ligados a transtornos mais sérios, como depressão. A escola deve criar estratégias para tornar o ambiente saudável e acolhedor. Fazer palestras sobre o tema é o primeiro passo”, diz Teixeira.
Outra medida é não tolerar o bullying; e estimular as denúncias. E oferecer apoio psicológico. “Todos sofrem com essa violência, não apenas os alvos”, diz.
Reportagem: Antônio Marinho