Acredito que nada é por acaso e que as coisas acontecem para o nosso progresso. E que as dificuldades são chances únicas de crescimento, aprendizado e "quitação de dívidas". Sei que, muito provavelmente, escolhi a missão de ter um filho especial nessa vida antes de reencarnar. E que ele me escolheu, pela história que nos une. Isso me dá alento para seguir com a jornada que é ser mãe especial.
Mas, sou humana, longe, muito longe do grau evolutivo necessário para se aceitar uma missão como essa sem cair várias vezes. É importante dizer isso em voz alta. Porque parece que temos de estar sempre sorrindo, temos obrigação de ser otimistas, segurando a peteca com classe e elegância, num eterno estado de Pollyanna, o que não é nada saudável nem normal. Durante um tempo, eu vivi assim. Precisamente, logo após o diagnóstico de Transtorno Global do Desenvolvimemento (TGD) do Luca, dentro do chamado espectro autístico. De dia, eu tinha de estar bem para trabalhar e memostrar forte para família, colegas de profissão e amigos. De noite, eu tirava a máscara.. O resultado foram madrugadas regadas a choro, sorvete, biscoito recheado, pizza e salgadinhos - único horário do dia em que eu me permitia sentir medo, frustração e tristeza - e... 40 quilos a mais na balança em menos de dois anos.
É muito fácil você se perder depois de receber uma notícia de que seu filho tem síndrome de down, autismo, déficit de atenção, e nem estou falando de outros problemas piores, lesões mais graves, deficiências muitas vezes sem tratamento ou recuperação. Não estou nem falando da dor de se perder um filho. Esse sim, o maior medo de todas nós, mães especiais ou não.

Se eu pudesse dar um recado para papais e mamães que vivem essa situação é: coloquem a máscara de oxigênio primeiro em vocês! Mesmo que isso pareça bobabem. Mesmo que isso pareça egoísmo. Não é! Porque se culpar e inconscientemente se boicotar, não vai ajudar em nada. Não é inteligente. Aliás, só vai dificultar mais as coisas. Eu demorei uns dois anos para sair desse estado letárgico de me punir com comida e de coisas que me fazem mal, engolindo sentimentos de frustração junto com milhares de calorias, como se a culpa fosse diminuir. Se eu pudesse ouvir meu inconsciente em voz alta, provavalmente ouviria ele dizer assim: "Coma, querida (ou beba, ou se drogue, ou entre em depressão, tanto faz. No meu caso foi comida). Coma, porque vc é culpada por essa criança ser assim. E, agora, o mínimo que vc tem de fazer para compensar isso, é perder algumas das suas qualidades como alegria, beleza, força de vontade, energia, otimismo, saúde, garra... Coma para diminuir sua ansiedade e continue sorrindo durante o dia para tudo parecer bem."
Eu tinha uma amargura interna, não me divertia, não saía, não ia ao cinema, não fazia nada para mim. Um dia cometi a heresia de descer de noite para tomar uma sauna no condomínio. Voltei em 15 minutos, morrendo de culpa, como se estivesse cometendo um crime.... Não via sequer a evolução do Luca que as pessoas viam; não tinha o otimismo que o meu marido e o meu pai tinham... Era exigente além da conta com ele, impaciente, não respeitava o tempo dele, achava que estimular era trancá-lo no quarto, obrigando o garoto a montar quebra-cabeça, fazer desenhos dentro do contorno e repetir palavras que ele ainda sequer sabia o significado.
Um dia, eu acordei. Aos poucos, comecei a aceitar que ele estava sim evoluindo e que ser diferente não é o fim do mundo, e que é uma missão bonita, e voltei a sorrir com ele e a ser espontânea de verdade e a aceitar seu tempo e rir com o seu jeito e a ficar cada vez menos comendo bobagens e chorando nas madrugadas. Foi quando eu pisei pela primeira vez nessa Pracinha maravilhosa. E comecei a escrever o meu blog. Aí, um dia, me olhei no espelho e não me reconheci. De quem era aquele corpo? Aquele olhar cansado? O estado letárgico havia passado, já estava me sentindo forte e equilibrada, mas aquela imagem no espellho não era eu... Vários quilos já foram embora. E, aos poucos, todos vão, um a um, tenho certeza.

Um beijo especial e desejos de um Feliz Natal. Um Natal sempre especial. Sempre aqui, na Pracinha
Patrícia, bom dia!
ResponderExcluirSuas palavras têm me ajudado bastante!
Parabéns pelo seu trabalho como mãe!
Obrigada, querida!
ResponderExcluirSó agora li, por meio do blog da Sônia Pessoa.Como é bom ver que vc está tomando altas doses de oxigênio. e jogou quilos e quilos fora, dos ombros principalmente. bjo
ResponderExcluirVc falou tudo, xará.. os maiores quilos são os dos ombros... bjo!!
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