terça-feira, 19 de março de 2013

Seis fatores ambientais que podem levar a desenvolver autismo

Uso de antidepressivos

O uso de antidepressivos durante a gravidez pode dobrar o risco do filho desenvolver autismo. Essa é a conclusão de um estudo realizado na Califórnia e publicado no periódico Archives of General Psychiatry em novembro de 2011, que envolveu 298 crianças com distúrbios do espectro do autismo (ASD, na sigla em inglês) e 1.507 crianças no grupo de controle. O uso de tais medicamentos foi relatado por 6,7% das mães de crianças autistas, contra 3,3% das mães no grupo de controle. Essa relação é considerada mais forte caso os medicamentos sejam utilizados no primeiro trimestre da gravidez.


Gripe ou febre persistente

Um estudo preliminar realizado com quase 96.736 crianças nascidas na Dinamarca entre 1997 e 2003, publicado em novembro de 2012 na revista americana Pediatrics, mostrou que a incidência de gripe ou febre prolongada durante a gravidez pode ser um fator de risco para o autismo.
De acordo com os pesquisadores, as crianças cujas mães tiveram gripe durante a gravidez tinham duas vezes mais chances de serem diagnosticadas com distúrbios do espectro do autismo (ASD) antes de completarem três anos de idade. No caso de febres com duração de uma semana ou mais, o risco pode ser até três vezes maior.
A motivação para a pesquisa surgiu de estudos em animais, que indicavam que a ativação do sistema imunológico da mãe durante a gravidez poderia afetar o desenvolvimento do cérebro da criança.

Estudo ainda revela que episódios de febre prolongada durante a gestação estão relacionados a um aumento de três vezes no risco de autismo. Uso de antibióticos também aumenta o risco, diz a pesquisa

Os autores do estudo recomendam às grávidas que sejam vacinadas
Os autores do estudo recomendam às grávidas que sejam vacinadas contra a gripe (Loic Venance/AFP)
A gripe durante a gravidez está associada com uma chance duas vezes maior de conceber um filho autista, sugere um estudo realizado na Dinamarca e publicado nesta segunda-feira na revista Pediatrics, editada pela Academia Americana de Pediatria.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Autism After Infection, Febrile Episodes, and Antibiotic Use During Pregnancy: An Exploratory Study

Onde foi divulgada: revista Pediatrics

Quem fez: Hjördis Ósk Atladóttir, Tine Brink Henriksen, Diana E. Schendel e  Erik T. Parner

Instituição: Universidade de Aarhus, Dinamarca

Dados de amostragem: 96.736 crianças dinamarquesas de 8 a 14 anos nascidas entre 1997 e 2003

Resultado: Mulheres afetadas por uma gripe durante a gravidez têm duas vezes mais chances de conceber um filho autista. O risco triplica quando as mães sofrem febre por períodos prolongados, de sete dias ou mais de duração, antes da 32ª semana de gravidez.
A pesquisa, baseada em entrevistas com as mães, envolveu 96.736 crianças dinamarquesas de 8 a 14 anos nascidas entre 1997 e 2003. Deste total, apenas 1% (976) foi diagnosticado com autismo.
Mas quando os autores perguntaram às mães se haviam sofrido algum tipo de enfermidade durante a gravidez, o risco de ter um filho autista mais que dobrou entre as que relataram a ocorrência de gripe. O risco até triplicou quando as mães tiveram febre por períodos prolongados, de sete dias ou mais de duração, antes da 32ª semana de gravidez.
O uso de antibióticos também foi associado com um aumento do risco de autismo nos bebês. "Esta relação entre antiobiótico e autismo é algo novo e ainda não confirmado", afirma o estudo.
Os pesquisadores realizaram o estudo com base em resultados de uma investigação realizada com ratos que sugeriu que a ativação do sistema imunológico materno durante a gravidez pode provocar deficiências no desenvolvimento neuronal do feto.
Os autores deixam claro, no entanto, que os "resultados não sugerem que as infecções leves, episódios febris, ou o uso de antibióticos durante a gravidez são fatores de risco para o autismo." Segundo as conclusões do estudo, "as descobertas podem ser casuais."

"As grávidas devem continuar fazendo o que sempre fizeram"

Hjördis Ósk Atladóttir
Pesquisadora do Departamento de Saúde Pública da Universidade Aarhus, da Dinamarca

A pesquisa deve preocupar as mães que tiveram gripe durante a gravidez?
Mesmo que tenhamos encontrado um risco aumentado de autismo por causa da gripe e de longos períodos de febre durante a gravidez, o estudo continua sendo especulativo. Eu gostaria de enfatizar que a prevalência normal do autismo é de 0,4% da população. Então, mesmo que o risco dobre ou triplique, ele acaba chegando a uma prevalência de 1%. Como resultado, 99% das mulheres que disseram ter tido gripe ou febre durante a gravidez não terão crianças com autismo.
Por causa das infecções urinárias, é muito comum tomar antibióticos durante a gravidez. O que as mulheres deveriam fazer neste caso?
Eu não recomendaria às mulheres grávidas fazer absolutamente nada diferente do que estão acostumadas a fazer. Se elas precisam de antibióticos, elas devem tomá-los. Se precisarem de uma vacina contra a gripe, devem recebê-la. Não queremos que as mulheres grávidas se preocupem. O resultado do estudo é explorativo.
Vocês pretendem conduzir outros estudos para estabelecer com certeza as causas dessa relação entre gripe, febre, antibióticos e autismo?
Estou interessada em fazer isso no futuro, mas leva bastante tempo para coletar informações. Neste meio tempo, acredito que outros pesquisadores ao redor do mundo vão levar essa pesquisa adiante.


Obesidade, diabetes e pressão alta

Mães obesas têm chances maiores de ter filhos autistas. De acordo com um estudo publicado no periódico Pediatrics em abril de 2012, a obesidade materna aumenta em até 67% a chance da criança sofrer do distúrbio.
A pesquisa envolveu com 517 crianças com distúrbios do espectro do autismo (ASD, na sgila em inglês), 172 com distúrbios do desenvolvimento e 315 com desenvolvimento normal, nascidas na Califórnia entre janeiro de 2003 e junho de 2010, e mostrou que a incidência de diabetes, hipertensão e obesidade das mães era maior no grupo que apresentava a doença do que no grupo de controle.

Além disso, dentre as crianças com ASD, aquelas cujas mães tinham diabetes apresentavam dificuldades relacionadas à linguagem, em comparação com os filhos de mulheres não-diabéticas. 

Chance de desenvolver distúrbio aumenta 67% para crianças nascidas de mães com distúrbios metabólicos

Criança isolada autismo
Autismo: o distúrbio se caracteriza pela incapacidade de estabelecer relações sociais normais e pelo comportamento compulsivo e ritual (Getty Images)
Mulheres que estão obesas durante a gravidez apresentam mais chances de ter filhos autistas. Segundo uma pesquisa publicada nesta segunda-feira no periódico médico Pediatrics, a obesidade materna aumenta até 67% a chance de a criança sofrer do distúrbio.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Maternal Metabolic Conditions and Risk for Autism and Other Neurodevelopmental Disorders

Onde foi divulgada: revista Pediatrics

Quem fez: Paula Krakowiak e equipe

Instituição: Instituto UC Davis MIND

Dados de amostragem: 1.004 crianças entre dois e três anos de vida

Resultado: A obesidade materna durante a gestação aumentou em 67% as chances da criança nascer com autismo. O diabetes também foi relacionado com o distúrbio, aumentando a ocorrência do autismo e de problemas cognitivos em crianças saudáveis.
O autismo é um distúrbio que torna a pessoa incapaz de estabelecer vínculos e relações sociais. Em média, as chances de uma criança nascer com autismo são de 1 para 88. A obesidade na gravidez, no entanto, pode aumentar essa propabilidade para 1 em 53.
A análise das habilidades cognitivas das crianças envolvidas no estudo apontou ainda para outro dado preocupante: entre os autistas, aqueles que tinham mães com diabetes apresentaram piores resultados em testes de linguagem e de habilidade de comunicação. A presença de qualquer desequilíbrio metabólico nas mães foi associado a resultados inferiores também para crianças que não tinham autismo.
Pesquisa – O estudo, conduzido por pesquisadores afiliados ao Instituto UC Davis MIND, envolveu 1.004 crianças da Califórnia, Estados Unidos, com idades entre dois e três anos. Dessas, 517 tinham autismo, 172 outras desordens de desenvolvimento e 315 tinham desenvolvimento normal.
Entre as crianças cujas mães tinham diabetes ou tiveram diabetes gestacional, a porcentagem de crianças autistas era de 9,3% - valor mais elevado do que as nascidas de mães sem o problema metabólico (6,4%). Cerca de 29% das crianças autistas e quase 35% daquelas com alguma outra deficiência de desenvolvimento tinham mães com algum problema metabólico – comparadas com os 19% das crianças normais que tinham mães com esses problemas.
O estudo, no entanto, não prova que a obesidade materna seja a causa direta do autismo - ele apenas demonstra haver relação entre a condição da mãe e a do filho. Segundo os pesquisadores, ainda não está claro como a obesidade pode afetar o desenvolvimento do feto. Uma das hipóteses é a de que a obesidade está relacionada com inflamações e níveis elevados de açúcar no sangue. Essas duas condições poderiam, assim, prejudicar o desenvolvimento do cérebro do bebê.


Vitamina D

Diversos estudos associam baixos níveis de vitamina D no sangue a doenças autoimunes. Um estudo publicado em agosto de 2012 no periódico Journal of Neuroinflammation aponta uma relação entre a falta dessa vitamina e o autismo
A pesquisa foi realizada com 50 crianças autistas, entre 5 e 12 anos, e 30 crianças com desenvolvimento normal. Entre as crianças com autismo, 88% delas tinham insuficiência ou deficiência (sendo a última a mais severa) de vitamina D. Ao mesmo tempo, 70% dos pacientes com a síndrome apresentaram níveis elevados do autoanticorpo denominado anti-MAG (glicoproteína associada à mielina). Autoanticorpos são células do sistema imunológico que atuam contra proteínas do próprio indivíduo que as produz, e por isso estão associados a doenças auto-imunes, como diabetes tipo 1 e lúpus sistêmico, por exemplo.
Os pesquisadores acreditam que a deficiência de vitamina D pode contribuir para a produção do autoanticorpo, mas a relação de tal vitamina com o autismo ainda não é clara

abagismo na gravidez pode aumentar risco de autismo nos bebês

Pesquisa, no entanto, identificou relação apenas com certos tipos do transtorno, como a síndrome de Asperger

Grávida fumante
Estudo encontra relação entre tabagismo na gravidez e risco de o bebê desenvolver autismo (Stockbyte)
Mulheres que fumam durante a gravidez correm mais riscos de terem filhos com transtornos do espectro autista, como a síndrome de Asperger, por exemplo. Essa é a conclusão de um estudo que se baseou em dados de mais de 600.000 crianças e que foi desenvolvido por pesquisadores do programa de vigilância em autismo do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), órgão de saúde dos Estados Unidos. Os resultados foram publicados nesta semana no site do periódico Environmental Health Perspectives.

Saiba mais

AUTISMO
Distúrbio que afeta a capacidade de comunicação e de estabelecer relações sociais. O autista comporta-se de maneira compulsiva e ritual. O distúrbio, que pode afetar o desenvolvimento normal da inteligência, atinge cinco em cada 10.000 crianças e é de duas a quatro vezes mais frequente no sexo masculino.
SÍNDROME DE ASPERGER
Embora o nome seja diferente, não se trata de um transtorno diferente do autismo, mas sim de uma manifestação menos grave do problema. De maneira geral, a criança ou o adulto são bem articulados verbalmente, inteligentes e capazes de agir de maneira mais independente, ao contrário dos sintomas das crianças com autismo.
“Há tempos já sabemos que o autismo compreende uma série de desordens que prejudicam as habilidades sociais e de comunicação. Agora, o que estamos observando é que alguns transtornos do espectro autista podem ser influenciados mais do que outros por fatores de risco, como o tabagismo na gravidez”, afirma Amy Kalkbrenner, coordenadora do estudo.
Nessa pesquisa, Kalkbrenner e sua equipe observaram dados de 633.989 crianças nascidas entre 1992 e 1998, sendo que 3.315 foram diagnosticadas com autismo aos oito anos de idade. Ao todo, 13% das mães fumaram durante a gravidez e, entre aquelas cujos filhos foram identificados com o problema, 11% fumaram no período.
Os pesquisadores observaram que o tabagismo na gestação aumenta as chances de a mulher ter um filho com distúrbios menos graves associados ao autismo, como a síndrome de Asperger, mas não identificaram relação entre cigarro na gravidez e chances de a criança nascer com autismo comum.
De acordo com Kalkbrenner, como o autismo é muito complexo e envolve diversos fatores, como interação social, genética e ambiente, nenhum trabalho é capaz de explicar todas as causas do distúrbio. “Por isso, o nosso objetivo foi fornecer mais uma peça para esse quebra-cabeça”, diz. "Mesmo assim, nossa pesquisa não dá como certo que o tabagismo é um fator de risco para o autismo, mas sugere a existência de uma associação entre cigarro e alguns tipos do problema".

Poluição do ar

A poluição do ar é um fator ambiental que tem sido relacionado ao autismo por diversos estudos. Uma pesquisa de 2010, realizada na Califórnia, mostrou que crianças que viviam a menos de 300 metros de rodovias tinham o dobro de chance de desenvolver autismo do que aquelas que viviam mais longe.
Os mesmos pesquisadores publicaram um estudo em novembro de 2012, no periódico Archives of General Psychiatry, que aprofunda tais resultados. Participaram 279 crianças diagnosticadas com autismo e outras 245 que não apresentavam a doença. As mães informaram os endereços em que viveram durante a gestação e o primeiro ano da criança e os pesquisadores analisaram os níveis de poluição do ar em cada local. O resultado mostrou que as crianças que foram expostas aos maiores níveis de poluição causada por veículos tinham até três vezes mais chances de desenvolverem autismo.

Estudos apontam um aumento significativo nos casos de autismo no mundo. Entre 2002 e 2008, o órgão americano Centers for Disease Control and Prevention (Centros de Prevenção e Controle de Doenças  — CDC) identificou um aumento de 100% no número de casos de Transtornos do Espectro do Autismo (ASD) diagnosticados nos EUA, de seis para 12 casos a cada 1.000 pessoas. No entanto, esse aumento não reflete necessariamente uma maior incidência da doença. O avanço pode estar relacionado aos avanços no diagnóstico.

CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Traffic-Related Air Pollution, Particulate Matter, and Autism

Onde foi divulgada: periódico Archives of General Psychiatry

Quem fez: Heather E. Volk, Fred Lurmann, Bryan Penfold, Irva Hertz-Picciotto e Rob McConnell

Instituição: Universidade do Sul da Califórnia

Resultado: Crianças que viviam em locais com maiores níveis de poluição relacionada ao tráfego de veículos apresentaram três vezes mais riscos  de desenvolver autismo, em comparação com as crianças que viviam em regiões com os níveis de poluição mais baixos. Quanto aos níveis regionais de poluição do ar, que se referem às medições de material particulado e dióxido de nitrogênio, as crianças com maior exposição eram duas vezes mais propensas a desenvolver a doença.
A principal dificuldade relacionada ao diagnóstico do autismo é o fato de que suas causas ainda não foram totalmente identificadas pelos pesquisadores. O que se sabe atualmente é que existem fatores genéticos e ambientais envolvidos, e estudos apontam diferentes situações ou comportamentos que estabelecem relação com a doença, mas ainda são necessários mais estudos até que as causas possam ser identificadas com precisão.
Um fator ambiental que tem sido frequentemente relacionado ao desenvolvimento do autismo é a poluição do ar. Um estudo de 2010 realizado por pesquisadores da Califórnia evidenciou a relação entre viver em locais próximos a estradas e rodovias de grande movimentação e o autismo. Crianças que viviam em residências a menos de 300 metros das rodovias apresentaram o dobro se risco de serem autistas, em relação àquelas que viviam em locais mais afastados.
O mesmo grupo de pesquisadores publicou nesta segunda-feira, no periódico Archives of General Psychiatry, um estudo que relaciona a poluição vinda de automóveis à incidência de autismo. A diferença é que, no estudo mais recente, foram medidos os níveis de poluentes no ar próximo às residências, não apenas a distância das rodovias.

Guilherme Polanczyk, psiquiatra infantil do Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, explica que é consenso entre os pesquisadores que os fatores genéticos não são suficientes para explicar as causas da doença. A principal evidência disso é o fato de que nem todos os gêmeos homozigóticos (que têm carga genética idêntica) apresentam a doença. "Isso mostra que há espaço para os fatores ambientais", afirma.

O médico também explica que, apesar da ampla gama de fatores ambientais relacionados ao autismo atualmente, isso não significa que todos os casos vão necessariamente se encaixar em todos os fatores, ou ainda que apenas um desses fatores será suficiente para causar o desenvolvimento da doença. "Um caso pode estar relacionado a fatores genéticos e processos infecciosos da mãe durante a gravidez, e não ter nada a ver com exposição a poluição do ar, mas um outro caso pode ter essa relação", afirma Guilherme.

Poluição — Participaram do estudo 279 crianças diagnosticadas com autismo e outras 245 que não apresentavam a doença, compondo o grupo de controle. As mães dessas crianças informaram todas as residências em que viveram durante a gravidez e o primeiro ano de vida do filho. Os pesquisadores analisaram diversas estatísticas, como o volume de tráfego na região, a direção do vento e estimativas regionais de poluição para medir a exposição das crianças a poluentes como material particulado e dióxido de nitrogênio.

O estudo mostra que as crianças que viviam em locais com maiores níveis de poluição relacionada ao tráfego de veículos tinham três vezes mais riscos de desenvolver autismo, em comparação com as crianças que viviam em regiões com os níveis de poluição mais baixos. Quanto aos níveis regionais de poluição do ar, que se referem às medições de material particulado e dióxido de nitrogênio, as crianças com maior exposição eram duas vezes mais propensas a desenvolver a doença.
De acordo com os pesquisadores, essa associação é mais evidente no final da gravidez e início da vida. Isso não significa, porém, que a poluição seja considerada uma causa do autismo, mas indica que ela parece ser um fator de risco.

 fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/cientistas-revertem-sintomas-do-autismo-em-animais

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