Segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
Coloque a máscara de oxigênio primeiro em você!
Mas, sou humana, longe, muito longe do grau evolutivo necessário para se aceitar uma missão como essa sem cair várias vezes. É importante dizer isso em voz alta. Porque parece que temos de estar sempre sorrindo, temos obrigação de ser otimistas, segurando a peteca com classe e elegância, num eterno estado de Pollyanna, o que não é nada saudável nem normal. Durante um tempo, eu vivi assim. Precisamente, logo após o diagnóstico de Transtorno Global do Desenvolvimemento (TGD) do Luca, dentro do chamado espectro autístico. De dia, eu tinha de estar bem para trabalhar e memostrar forte para família, colegas de profissão e amigos. De noite, eu tirava a máscara.. O resultado foram madrugadas regadas a choro, sorvete, biscoito recheado, pizza e salgadinhos - único horário do dia em que eu me permitia sentir medo, frustração e tristeza - e... 40 quilos a mais na balança em menos de dois anos.
É muito fácil você se perder depois de receber uma notícia de que seu filho tem síndrome de down, autismo, déficit de atenção, e nem estou falando de outros problemas piores, lesões mais graves, deficiências muitas vezes sem tratamento ou recuperação. Não estou nem falando da dor de se perder um filho. Esse sim, o maior medo de todas nós, mães especiais ou não.

Se eu pudesse dar um recado para papais e mamães que vivem essa situação é: coloquem a máscara de oxigênio primeiro em vocês! Mesmo que isso pareça bobabem. Mesmo que isso pareça egoísmo. Não é! Porque se culpar e inconscientemente se boicotar, não vai ajudar em nada. Não é inteligente. Aliás, só vai dificultar mais as coisas. Eu demorei uns dois anos para sair desse estado letárgico de me punir com comida e de coisas que me fazem mal, engolindo sentimentos de frustração junto com milhares de calorias, como se a culpa fosse diminuir. Se eu pudesse ouvir meu inconsciente em voz alta, provavalmente ouviria ele dizer assim: "Coma, querida (ou beba, ou se drogue, ou entre em depressão, tanto faz. No meu caso foi comida). Coma, porque vc é culpada por essa criança ser assim. E, agora, o mínimo que vc tem de fazer para compensar isso, é perder algumas das suas qualidades como alegria, beleza, força de vontade, energia, otimismo, saúde, garra... Coma para diminuir sua ansiedade e continue sorrindo durante o dia para tudo parecer bem."
Eu tinha uma amargura interna, não me divertia, não saía, não ia ao cinema, não fazia nada para mim. Um dia cometi a heresia de descer de noite para tomar uma sauna no condomínio. Voltei em 15 minutos, morrendo de culpa, como se estivesse cometendo um crime.... Não via sequer a evolução do Luca que as pessoas viam; não tinha o otimismo que o meu marido e o meu pai tinham... Era exigente além da conta com ele, impaciente, não respeitava o tempo dele, achava que estimular era trancá-lo no quarto, obrigando o garoto a montar quebra-cabeça, fazer desenhos dentro do contorno e repetir palavras que ele ainda sequer sabia o significado.
Um dia, eu acordei. Aos poucos, comecei a aceitar que ele estava sim evoluindo e que ser diferente não é o fim do mundo, e que é uma missão bonita, e voltei a sorrir com ele e a ser espontânea de verdade e a aceitar seu tempo e rir com o seu jeito e a ficar cada vez menos comendo bobagens e chorando nas madrugadas. Foi quando eu pisei pela primeira vez nessa Pracinha maravilhosa. E comecei a escrever o meu blog. Aí, um dia, me olhei no espelho e não me reconheci. De quem era aquele corpo? Aquele olhar cansado? O estado letárgico havia passado, já estava me sentindo forte e equilibrada, mas aquela imagem no espellho não era eu... Vários quilos já foram embora. E, aos poucos, todos vão, um a um, tenho certeza.

Um beijo especial e desejos de um Feliz Natal. Um Natal sempre especial. Sempre aqui, na Pracinha!
Engraçado, sempre que falam isso no avião, fico pensando se algum dia eu vou conseguir colocar a máscara primeiro ou se vou colocar primeiro no garotão...
Mas, tudo bem, a gente vai levando, vivendo e celebrando!
Amei o post!
Feliz Natal!!!!