Contato visual convida ao mimetismo, dizem cientistas
A imitação pode ser a forma mais sincera de elogio, mas como decide o nosso cérebro quando e quem devemos imitar? Segundo investigadores da Universidade de Nottingham, a chave pode estar num convite implícito comunicado através do contacto visual.
Um estudo publicado no Journal of Neuroscience pela equipa de cientistas da Escola de Psicologia da Universidade de Nottingham mostra que o contacto visual parece agir como um convite para o mimetismo, provocando mecanismos na região frontal do cérebro que controlam a imitação.
Os resultados podem ser as primeiras pistas para entender por que algumas pessoas, como crianças com autismo, lutam para compreender quando se espera que copiem as acções dos outros em situações sociais.
“Muitos estudos têm investigado a cópia e a imitação em termos de ‘neurónios-espelho’, que se acredita serem partes especializadas do cérebro humano que implementam imitação. No entanto, também sabemos que a imitação é cuidadosamente controlada, as pessoas não imitam tudo o que vêem e só copiam o que é importante”, afirmou Antonia Hamilton, investigadora principal do estudo.
“Estudos anteriores mostraram que quando alguém faz contacto visual connosco, é mais provável que copiemos essa pessoa. Então, o contacto visual parece agir como uma mensagem que diz ‘copia-me agora’. Este estudo recente teve como objectivo ver o que acontece a esse sinal no cérebro”, continuou.
A equipe de psicólogos utilizou a ressonância magnética funcional para mapear o cérebro de voluntários enquanto assistiam a vídeos de uma actriz que, por vezes, fazia contacto visual com eles enquanto abria e fechava a mão. O participante foi informado de que deveria abrir a sua própria mão sempre que visse a actriz a mover a dela. Em alguns ensaios o participante copiou a actriz, noutros não.
O tempo de resposta revelou que o participante imitou inconscientemente e mais rapidamente a actriz quando esta promovia o contacto visual. Os cientistas analisaram os dados de imagem cerebral para descobrir quais áreas do cérebro controlavam a decisão de imitar. A análise utilizou um novo método matemático chamado de modelagem causal dinâmica para calcular o processamento de informações no cérebro, algo que nunca foi aplicado à imitação.
Os dados comprovaram que as regiões do cérebro de neurónios-espelho desempenham um papel na tarefa de copiar.
Contudo, revelaram também que essas regiões são controladas pelo córtex pré-frontal medial, uma área do cérebro associada com o planeamento de complexos comportamentos cognitivos, expressando a personalidade, a tomada de decisões e resposta a situações sociais.
De acordo com Antonia Hamilton, “estudos anteriores mostraram que essa região cerebral pré-frontal medial está activa em muitas situações sociais, mas responde menos em pessoas com autismo, o que explica por que as crianças do espectro autista não possam copiar na altura certa”.
A cientista considera que “compreender o controlo da imitação tem implicações para muitas outras áreas da psicologia. Por exemplo, os adolescentes cujo córtex pré-frontal está menos desenvolvido podem ser mais facilmente levados a imitar comportamentos de risco? Poderia um maior contacto visual entre crianças e professores levar a uma melhor aprendizagem por imitação? Poderá um maior controlo da imitação ajudar as crianças com autismo a aprender e interagir de forma mais eficaz? Planeamos realizar mais investigação para responder a estas perguntas”.
Fonte:
Ciência Hoje
2011-08-17
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