sábado, 11 de junho de 2011

Hábitos alimentares estão relacionados a comportamentos dos autistas

Um tratamento alternativo para o autismo, síndrome que afeta todas as
áreas do comportamento humano, é o foco de uma pesquisa na Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP em Piracicaba.
A partir do aumento de número de pais que utilizam uma terapêutica
coadjuvante para o controle dos sintomas em seus filhos, os
pesquisadores estabeleceram uma relação entre hábito alimentar e
síndrome do espectro autista.
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Pesquisa estabelece relação entre hábito alimentar e síndrome do
espectro autista
"A pesquisa teve como objetivos identificar o padrão de hábito
alimentar de um grupo de autistas, promover testes para o
desenvolvimento de métodos de análises laboratoriais que comprovem a
eficiência da dieta isenta de glúten e caseína no controle dos
sintomas da doença e, também identificar a ocorrência de alterações do
metabolismo da creatina, associadas a ocorrência do autismo, a partir
da análise da concentração de creatina em urina", conta Nádia Isaac da
Silva, do programa de pós-graduação em Ciência e Tecnologia de
Alimentos da Esalq, que participou do trabalho.
O estudo foi conduzido com uma população de 28 autistas com idade
entre 2 a 33 anos e que a triagem foi realizada no Centro Municipal de
Especialização do Autista (CEMA) da cidade de Limeira (SP), e no
Núcleo de Especialização e Socialização do Autista (NESSA) da cidade
de Mogi-Guaçú (SP). Os resultados sobre a caracterização da população
indicaram que um terço dos pais de autistas possuem baixa escolaridade
e 60% renda familiar na faixa de 2 a 4 salários mínimos. Segundo o
método de avaliação CARS, 64% dos autistas são casos graves e 68% se
encontram na faixa de retardo mental. A renite alérgica é a patologia
de maior prevalência na população estudada. Em média, 60,71% dos
autistas apresentam sintomas gástricos, sendo o mais freqüente a
flatulência (39,90%).
O registro sobre comportamento alimentar identificou que 50% dos
autistas expressam o comportamento de comerem muito rápido e 46,43%
consomem porções exageradas de alimentos. Esse fato influencia
diretamente no hábito alimentar.
A avaliação de adequação de consumo de nutrientes revelou que 57,14%
têm o consumo de energia superior ao recomendado e baixo consumo de
fibras, ácido ascórbico e cálcio. Já as análises de concentração de
creatinina revelaram que os valores são significativamente inferiores
em crianças autistas e do grupo controle formados por parentes
distantes e que são similares quando comparado com grupo formado por
seus pais.
Tratamento
Os tratamentos mais populares para o autismo são dietas que orientam
para a exclusão de alguns alimentos ou grupo de alimentos. Entre as
diversas dietas propostas, a mais popular é a dieta isenta de glúten
(proteína presente no trigo) e caseína (proteína presente no leite e
derivados). Porém, a análise dos estudos que comprovam a eficácia da
dieta isenta de glúten e caseína tem sido criticada devido a questões
importantes como o desconhecimento de um padrão alimentar que possa
favorecer o agravamento dos sintomas do autismo e ausência de análises
laboratoriais que comprovem a eficácia da dieta. Outra hipótese é de
que distúrbios do metabolismo da creatina também estão integrados à
doença.
A pesquisadora revela que para atingir os objetivos da pesquisa foi
elaborada uma anamnese nutricional (teste recordatório) contendo
questões sobre características sociodemográficas das famílias dos
autistas participantes, histórico pessoal de doenças, comportamento
autista durante as refeições e levantamento de hábito alimentar. Para
caracterizar o quadro clínico da população foi realizada uma avaliação
psicológica por método quantitativo Childhood Austism Rating Scale
(CARS). As concentrações de creatina na urina dos autistas e grupo
controle formado por parentes do mesmo sexo foi determinada pelo
método de Jaffé otimizado.
Segundo a pesquisadora, o conhecimento do hábito alimentar e,
principalmente, o desenvolvimento de métodos de análises que comprovem
concentrações inadequadas de peptídeos opiáceos derivados do glúten e
da caseína ainda é um desafio. "Hoje é necessária a realização de
pesquisas para criar metodologias de análise de peptídeos opioides em
fluidos corpóreos mais confiáveis, passíveis de reprodução", aponta.
"Na literatura, os resultados positivos obtidos em estudos não são
replicáveis, formando uma lacuna para a compreensão da relação entre
alimentação e comportamento autista".
Para a professora Jocelem Mastrodi Salgado, orientadora do estudo, "a
importância dessa pesquisa é mostrar que tanto o conhecimento como a
compreensão dos fatores associados à patologia e ao emprego de exames
laboratoriais seguros irão contribuir para um diagnóstico precoce da
doença, possibilitando o acesso a tratamentos mais adequados". A
professora afirma ainda que "as pesquisas com finalidade de criar
novos tratamentos coadjuvantes e biomarcadores confiáveis de
diagnóstico para o autismo são de grande importância em um país como o
Brasil em virtude do elevado número de casos de autistas que não tem
acesso ao diagnóstico e nem tratamento adequado".
Segundo a professora da Esalq, não existem no País dados oficiais
sobre a prevalência do autismo, porém há informações que apontam para
a média de 50 mil autistas e a existência de cerca de um milhão de
portadores sem diagnóstico. O projeto de pesquisa foi desenvolvido nos
laboratórios de Nutrição Humana do Departamento de Agroindústria,
Alimentos e Nutrição (LAN), sob orientação de Jocelem Mastrodi
Salgado, em parceria com o de Genética de Plantas Max Feffer do
Departamento de Genética (LGN) da ESALQ, cujo responsável é Carlos
Alberto Labate, e, ainda, Laboratório de Bioquímica e Biofísica do
Departamento de Bioquímica do Instituto Butantan, sob responsabilidade
de Ivo Lebrun.
Mais informações: email
nisilva@...<https://webmail.usp.br/message.php?mailbox=INBOX&index=1890\
5
>,
com Nádia Isaac da Silva

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