Muito além dos neurônios
Carlos Eduardo Sobreira Maciel
Muito além dos neurônios foi o título do segundo painel ocorrido no primeiro dia do Medinesp, o congresso internacional da Associação Médico-Espírita do Brasil, realizado de 7 a 9 de junho, no Maksoud Plaza, na capital paulista. Nele, um dos palestrantes, Carlos Eduardo Sobreira Maciel, especialista em Psiquiatria, do corpo clínico do Hospital Espírita André Luiz, de Belo Horizonte (MG), membro do Grupo de Estudo de Espiritismo e Psiquiatria da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais (AME-MG) e vice-presidente da entidade, abordou o tema Neurônios-espelho, autismo e marcas espirituais, tratado na entrevista abaixo:
Neurônios-espelho, autismo e marcas espirituais
Ismael Gobbo
Folha Espírita - A mídia científica está dizendo que as recentes descobertas sobre os neurônios-espelho são um dos achados mais importantes das neurociências nos últimos tempos. Isso é verdade?
Carlos Eduardo Sobreira Maciel - De fato, a descoberta dos neurônios-espelho constitui um avanço muito importante no sentido de termos agora alguma resposta mais profunda no tocante à causalidade do autismo. Todavia, como a descoberta diz respeito apenas à causalidade biológica, para a visão médico-espírita ainda é algo muito restrito.
FE - Alguns cientistas até ousam dizer que essas células irão fazer pela Psicologia o que o DNA fez pela Biologia. Por quê?
Maciel - Eu reafirmo o que disse anteriormente, que a descoberta é importante. Acho que ela esclarece muito, em nível celular, sobre a relação entre os indivíduos, porque nos possibilita identificar as emoções, os atos e as intenções alheias, colocando-nos numa relação empática com o outro. Eu acredito que isso pode servir de subsídio para a Psicologia e para muitos estudos, mas considero ainda muito cedo para compará-la com o que hoje se sabe do DNA.
FE - O que são neurônios-espelho?
Maciel - Neurônios-espelho são um conjunto de células cerebrais que têm a função de refletir no cérebro do observador um ato realizado por outro indivíduo. Por exemplo: essas células são ativadas em meu cérebro quando eu pego um copo d'água. As mesmas células são ativadas em alguém que me observa. Então elas espelham no cérebro de outro indivíduo, o observador, aquilo que estou fazendo. Portanto os neurônios-espelho nos permitem uma compreensão visceral daquilo que observamos, não só as ações, mas também as emoções.
FE - O que é autismo?
Maciel - O autismo é um transtorno invasivo do desenvolvimento que se manifesta antes dos 3 anos de idade. Ele se caracteriza por um desenvolvimento anormal e por alterações em três áreas: interação social, comunicação e comportamento.
FE - Por que ele acontece?
Maciel - A maioria dos casos de autismo tem causa desconhecida. Alguns decorrem de condições médicas, dentre as quais infecções intra-uterinas como a rubéola congênita, doenças genéticas como a síndrome do x-frágil, e a síndrome fetal alcoólica provocada pela ingestão de álcool pela mãe durante a gravidez. Essas são as mais comuns. Todavia, as causas na maioria das situações são desconhecidas, um verdadeiro mistério para a ciência.
FE - Existe tratamento para o autismo?
Maciel - Do ponto de vista médico podemos dizer que não há um psicofármaco específico para tratar o autismo. Os medicamentos utilizados são ministrados para controlar as agitações psicomotoras e as auto e heteroagressões produzidas pelos indivíduos autistas. O autismo é uma doença muito complexa que requer uma abordagem multidisciplinar envolvendo educadores, psicólogos e terapeutas ocupacionais, visto que requisita atenção para as questões educacionais e de socialização. Como médicos espíritas, sabemos da importância da terapêutica complementar espírita que a Doutrina nos recomenda. Nessa patologia, via de regra, há severos débitos passados com conseqüente obsessão espiritual, o que indica o tratamento desobsessivo, aplicação de passes e uso da água fluidificada.
FE - E o que são as marcas espirituais sobre as quais você fala?
Maciel - Essa é uma terminologia genérica que utilizamos para tratar do assunto ao nos referirmos à causalidade mais profunda do autismo. Encontramos nas obras da literatura médico-espírita esclarecimentos sobre as causas e o processo de formação dos sintomas, o que nos proporciona uma nova leitura dos sintomas autísticos, em que cada indivíduo é visto sob a ótica reencarnacionista. Importante lembrar aqui o processo de formação do autismo a partir do momento da reencarnação, quando se vislumbra a consciência do indivíduo marcada pela culpa, acarretando lesões no seu perispírito e conseqüente impressão na formação do sistema nervoso do novo corpo e os sintomas autísticos advindos dessa impressão.
FE - Seria uma deformação perispirítica?
Maciel - São duas as possibilidades de formação do autismo. Uma delas, como já disse, seria o reencarnante que sofre o efeito das marcas que traz no perispírito. Esses danos perispirituais levam às lesões do sistema nervoso, que, por sua vez, desencadeiam as manifestações de natureza autista. Nesse caso o indivíduo não consegue se comunicar por causa de deformações ou lesões nos corpos astral e físico. A outra possibilidade seria esse espírito, marcado com a consciência da culpa, temendo uma reencarnação compulsória na qual colherá os efeitos de faltas passadas. Segundo os mentores da associação, choques frontais e desvios graves do passado provocam esse sentimento de culpa. Nessa situação, o espírito rejeita a reencarnação, provocando o autismo. Ocorre um severo processo de auto-obsessão por abandono consciente da vida, um auto-encarceramento orgânico. Nesse caso, mesmo não havendo uma lesão direta do perispírito, a rejeição à reencarnação e a recusa à comunicação
danificam o cérebro.
FE - Então o autismo pode ser considerado uma marca espiritual?
Maciel - Sem dúvida, as raízes desse comportamento são encontradas em tempos remotos vividos pelo espírito milenar. Segundo Bezerra de Menezes, no livro Loucura e Obsessão, muitos espíritos buscam na alienação mental, através do autismo, fugir do resgate de suas faltas passadas, das lembranças que os atormentam e das vítimas que angariaram nesse mesmo passado.
FE - Há casos de autistas que alcançaram a cura total?
Maciel - É uma situação muito rara. Mas há casos na literatura de pacientes que alcançam uma certa autonomia e uma melhora surpreendente, inusitada e muito incomum. Há inclusive livros publicados por esses autistas. Mas há que se ter cuidado com o diagnóstico, porquanto há casos rotulados de autismo que na realidade não o são. O autismo é uma doença complexa até no sentido de se fazer o diagnóstico diferencial com outras doenças.
FE - Quais os livros que os interessados poderiam consultar para melhor conhecer o autismo?
Maciel - Recomendo especialmente o livro de Hermínio Miranda Autismo - Uma Leitura Espiritual.
FE - Qual a mensagem que você deixaria aos pais e familiares espíritas e não espíritas que convivem com autistas e buscam uma resposta para o problema?
Maciel - Eu diria que o mais importante na lida com esses pacientes é não se esquecer que eles são nossos semelhantes bem profundos, com nível evolutivo bem próximo ao nosso. Segundo os mentores da Associação Médico-Espírita, uma das poucas diferenças que há entre nós e eles é que estamos num nível um pouco melhor de boa vontade, mas nossas faltas são praticamente as mesmas. Temos, portanto, a bendita oportunidade de ocupar, temporariamente, a posição de "cuidadores". Eu enfatizaria aos pais a importância do exercício da tolerância, da empatia, da compreensão e da paciência com seus filhos, tendo em vista que o que lhes falta não nos pode faltar. Temos de nos colocar na posição deles a fim de compreendê-los e amá-los.
"Os pais de autistas devem exercitar a tolerância, empatia, compreensão e paciência com seus filhos, tendo em vista que o que lhes falta não nos pode faltar. Temos de nos colocar na posição deles a fim de compreendê-los e amá-los".
Muito além dos neurônios foi o título do segundo painel ocorrido no primeiro dia do Medinesp, o congresso internacional da Associação Médico-Espírita do Brasil, realizado de 7 a 9 de junho, no Maksoud Plaza, na capital paulista. Nele, um dos palestrantes, Carlos Eduardo Sobreira Maciel, especialista em Psiquiatria, do corpo clínico do Hospital Espírita André Luiz, de Belo Horizonte (MG), membro do Grupo de Estudo de Espiritismo e Psiquiatria da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais (AME-MG) e vice-presidente da entidade, abordou o tema Neurônios-espelho, autismo e marcas espirituais, tratado na entrevista abaixo:
Neurônios-espelho, autismo e marcas espirituais
Ismael Gobbo
Folha Espírita - A mídia científica está dizendo que as recentes descobertas sobre os neurônios-espelho são um dos achados mais importantes das neurociências nos últimos tempos. Isso é verdade?
Carlos Eduardo Sobreira Maciel - De fato, a descoberta dos neurônios-espelho constitui um avanço muito importante no sentido de termos agora alguma resposta mais profunda no tocante à causalidade do autismo. Todavia, como a descoberta diz respeito apenas à causalidade biológica, para a visão médico-espírita ainda é algo muito restrito.
FE - Alguns cientistas até ousam dizer que essas células irão fazer pela Psicologia o que o DNA fez pela Biologia. Por quê?
Maciel - Eu reafirmo o que disse anteriormente, que a descoberta é importante. Acho que ela esclarece muito, em nível celular, sobre a relação entre os indivíduos, porque nos possibilita identificar as emoções, os atos e as intenções alheias, colocando-nos numa relação empática com o outro. Eu acredito que isso pode servir de subsídio para a Psicologia e para muitos estudos, mas considero ainda muito cedo para compará-la com o que hoje se sabe do DNA.
FE - O que são neurônios-espelho?
Maciel - Neurônios-espelho são um conjunto de células cerebrais que têm a função de refletir no cérebro do observador um ato realizado por outro indivíduo. Por exemplo: essas células são ativadas em meu cérebro quando eu pego um copo d'água. As mesmas células são ativadas em alguém que me observa. Então elas espelham no cérebro de outro indivíduo, o observador, aquilo que estou fazendo. Portanto os neurônios-espelho nos permitem uma compreensão visceral daquilo que observamos, não só as ações, mas também as emoções.
FE - O que é autismo?
Maciel - O autismo é um transtorno invasivo do desenvolvimento que se manifesta antes dos 3 anos de idade. Ele se caracteriza por um desenvolvimento anormal e por alterações em três áreas: interação social, comunicação e comportamento.
FE - Por que ele acontece?
Maciel - A maioria dos casos de autismo tem causa desconhecida. Alguns decorrem de condições médicas, dentre as quais infecções intra-uterinas como a rubéola congênita, doenças genéticas como a síndrome do x-frágil, e a síndrome fetal alcoólica provocada pela ingestão de álcool pela mãe durante a gravidez. Essas são as mais comuns. Todavia, as causas na maioria das situações são desconhecidas, um verdadeiro mistério para a ciência.
FE - Existe tratamento para o autismo?
Maciel - Do ponto de vista médico podemos dizer que não há um psicofármaco específico para tratar o autismo. Os medicamentos utilizados são ministrados para controlar as agitações psicomotoras e as auto e heteroagressões produzidas pelos indivíduos autistas. O autismo é uma doença muito complexa que requer uma abordagem multidisciplinar envolvendo educadores, psicólogos e terapeutas ocupacionais, visto que requisita atenção para as questões educacionais e de socialização. Como médicos espíritas, sabemos da importância da terapêutica complementar espírita que a Doutrina nos recomenda. Nessa patologia, via de regra, há severos débitos passados com conseqüente obsessão espiritual, o que indica o tratamento desobsessivo, aplicação de passes e uso da água fluidificada.
FE - E o que são as marcas espirituais sobre as quais você fala?
Maciel - Essa é uma terminologia genérica que utilizamos para tratar do assunto ao nos referirmos à causalidade mais profunda do autismo. Encontramos nas obras da literatura médico-espírita esclarecimentos sobre as causas e o processo de formação dos sintomas, o que nos proporciona uma nova leitura dos sintomas autísticos, em que cada indivíduo é visto sob a ótica reencarnacionista. Importante lembrar aqui o processo de formação do autismo a partir do momento da reencarnação, quando se vislumbra a consciência do indivíduo marcada pela culpa, acarretando lesões no seu perispírito e conseqüente impressão na formação do sistema nervoso do novo corpo e os sintomas autísticos advindos dessa impressão.
FE - Seria uma deformação perispirítica?
Maciel - São duas as possibilidades de formação do autismo. Uma delas, como já disse, seria o reencarnante que sofre o efeito das marcas que traz no perispírito. Esses danos perispirituais levam às lesões do sistema nervoso, que, por sua vez, desencadeiam as manifestações de natureza autista. Nesse caso o indivíduo não consegue se comunicar por causa de deformações ou lesões nos corpos astral e físico. A outra possibilidade seria esse espírito, marcado com a consciência da culpa, temendo uma reencarnação compulsória na qual colherá os efeitos de faltas passadas. Segundo os mentores da associação, choques frontais e desvios graves do passado provocam esse sentimento de culpa. Nessa situação, o espírito rejeita a reencarnação, provocando o autismo. Ocorre um severo processo de auto-obsessão por abandono consciente da vida, um auto-encarceramento orgânico. Nesse caso, mesmo não havendo uma lesão direta do perispírito, a rejeição à reencarnação e a recusa à comunicação
danificam o cérebro.
FE - Então o autismo pode ser considerado uma marca espiritual?
Maciel - Sem dúvida, as raízes desse comportamento são encontradas em tempos remotos vividos pelo espírito milenar. Segundo Bezerra de Menezes, no livro Loucura e Obsessão, muitos espíritos buscam na alienação mental, através do autismo, fugir do resgate de suas faltas passadas, das lembranças que os atormentam e das vítimas que angariaram nesse mesmo passado.
FE - Há casos de autistas que alcançaram a cura total?
Maciel - É uma situação muito rara. Mas há casos na literatura de pacientes que alcançam uma certa autonomia e uma melhora surpreendente, inusitada e muito incomum. Há inclusive livros publicados por esses autistas. Mas há que se ter cuidado com o diagnóstico, porquanto há casos rotulados de autismo que na realidade não o são. O autismo é uma doença complexa até no sentido de se fazer o diagnóstico diferencial com outras doenças.
FE - Quais os livros que os interessados poderiam consultar para melhor conhecer o autismo?
Maciel - Recomendo especialmente o livro de Hermínio Miranda Autismo - Uma Leitura Espiritual.
FE - Qual a mensagem que você deixaria aos pais e familiares espíritas e não espíritas que convivem com autistas e buscam uma resposta para o problema?
Maciel - Eu diria que o mais importante na lida com esses pacientes é não se esquecer que eles são nossos semelhantes bem profundos, com nível evolutivo bem próximo ao nosso. Segundo os mentores da Associação Médico-Espírita, uma das poucas diferenças que há entre nós e eles é que estamos num nível um pouco melhor de boa vontade, mas nossas faltas são praticamente as mesmas. Temos, portanto, a bendita oportunidade de ocupar, temporariamente, a posição de "cuidadores". Eu enfatizaria aos pais a importância do exercício da tolerância, da empatia, da compreensão e da paciência com seus filhos, tendo em vista que o que lhes falta não nos pode faltar. Temos de nos colocar na posição deles a fim de compreendê-los e amá-los.
"Os pais de autistas devem exercitar a tolerância, empatia, compreensão e paciência com seus filhos, tendo em vista que o que lhes falta não nos pode faltar. Temos de nos colocar na posição deles a fim de compreendê-los e amá-los".
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