sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Entrevista com Vitor Moita (psicólogo clínico)


 
 “Não se conhece a si próprio, não sabe que existe nem tem a noção que os outros existem”
 
ENTREVISTA COM
VITOR MOITA
<!--[if !vml]-->


     É firme e olha o interlocutor nos olhos, com um ar simpático. Vítor Moita tem um ar de homem vivido e encadeia histórias curiosas e argumentos de uma forma tão rápida que a conversa não morre nunca. É psicólogo clínico de crianças há 30 anos e é professor na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto.
     Habituado a trabalhar com crianças desde o início da sua carreira, Vítor Moita considera que trabalhar com crianças autistas é um desafio ainda maior porque é uma área muito difícil, com carência de apoio por parte do Estado e da sociedade.

O que é o autismo?

     É uma perturbação psíquica que tem a ver com a noção de personalidade ou de sujeito psicológico e está associada ao facto de ter havido uma anomalia no desenvolvimento mental cujas causas podem ser diversas, de origem orgânica, ou ambientais ou relacionais mas muito precoces. Instalam-se nos primeiros dois, três anos de vida.
     É uma perturbação mental em que o sujeito não se conhece a si próprio, não sabe que existe nem tem a noção que os outros existem e, portanto, não estabelece uma relação psíquica útil com os outros.

Como se processa essa perturbação psíquica?

     Até a criança nascer há um funcionamento simultâneo, confunde-se organicamente e psicologicamente com a mãe. O processo de simbiose consiste em haver dois seres misturados um com o outro que não tem autonomia própria. Nem a criança tem autonomia em relação à mãe nem a mãe em relação ao filho.
     Se é certo que com o parto essa separação biológica se dá, no caso do ser humano a simbiose psíquica mantém-se. Isto é, durante um tempo o bebé continua dependente da forma como a mãe o imagina, como o pensa, como o trata e cuida das suas necessidades básicas.
     No processo de individuação e através do contacto social com as exigências do meio, o bebé já está preparado para iniciar esse processo de separação psíquica. No entanto, há factores de meio que podem estimular ou atrasar o processo maturativo, como acrescentar novas aprendizagens, aquisições que não dependem só do processo maturativo, mas é preciso que este corra normalmente e se acrescente a interferência do meio no sentido de ensinar às crianças determinado tipo de competências que se não estão em contacto com seres da mesma espécie não aprendem.
     Quando se dá esta separação ela tem de ser comparada pela emergência de um processo de comunicação. Dá-se um vazio que tem de ser preenchido ou colmatado por um processo de comunicação que começa por ser básico e instintivo. Finalmente, vai ser a linguagem e os processos de simbolização e de formas de comunicar. É aqui que pode acontecer o autismo.


Podemos dizer que o autismo acontece devido a uma falha de comunicação?

     No autismo a separação dá-se de uma forma brusca sem que a pouco e pouco a criança tenha aprendido a manter a ligação através da comunicação simbólica, através da fala, da linguagem ou outros processos de comunicação.
     O autismo é basicamente uma forma de psicose (perturbação mental), grave da criança que decorre do facto de na separação o processo de autonomia que está implícito no desenvolvimento ter ocorrido uma anomalia qualquer que impediu ou de algum modo perturbou essa capacidade de se reconhecer como pessoa e de comunicar.


Falou também que o meio poderia interferir no autismo. De que forma?

     No desenvolvimento do ser humano os fenómenos do meio e as suas agressões quando aparecem precocemente (primeiras horas de vida, primeiros meses) desencadeiam um fenómeno de interferência que é importante no condicionamento do desenvolvimento da criança como se aquilo fosse herdado geneticamente. São formas de actuação muito precoce do meio que ficam gravadas como se fossem herdadas no funcionamento do bebé. Se ele tem essas experiências negativas muito fundamentais com a figura da mãe, isso pode ser a génese do autismo.


Concorda que o autismo é a “absorção da fantasia como escape da realidade”?

     Não. Quando falamos em fantasia falamos na produção de representações mentais que têm uma característica essencial: são semelhantes às dos outros, são reconhecíveis pelos outros e eu reconheço-me nas fantasias que reproduzo e que são semelhantes com aquelas que oiço nos outros. É isso que está afectado numa criança autista. Ela produz não fantasias porque ela própria não tem a noção de que pode produzir fantasias embora ela as crie. Ela cria não fantasias, mas fantasmas.


Qual a diferença entre fantasia e fantasmas?

     É que a fantasia o sujeito reconhece que é o autor dos seus pensamentos, das suas imagens, sabe qual é a sua origem, pode trocar fantasias com os outros, pode fazê-las nascer e oferecê-las e pode aceitar as fantasias dos outros. Nos fantasmas a produção é feita também pelo próprio, mas ele não sabe. É produzida de forma automática, ele não reconhece como suas. Eles funcionam como uma espécie de meteoritos na vida mental da criança e em relação aos interlocutores eles também não reconhecem esse tipo de repercussões como oriundas das crianças, o que inviabiliza a compreensão da criança. O que é aflitivo para quem lida com uma criança autista é que não é capaz de se pôr no ponto de vista da criança, identificar os padrões de comunicação que ele tem e reproduzir essas comunicações para entrar em contacto com ela.


Qual é a ou as causa do autismo?

     Pode dar origem a autismos, por exemplo, a psicose pós-parto. Pode haver pela história do desenvolvimento da mãe ou pelas suas condições de saúde interiores ou por circunstâncias furtuítas que a mãe esteja fragilizada fisíca e psicologicamente quando engravida. A gravidez porque introduz modificações muito rápidas e fundamentalmente na biologia da mãe leva à deformação do corpo não só exterior, mas também interior. A estabilidade que eu tenho da minha representação do corpo é fundamental para a minha saúde mental, isto é, sempre que há uma alteração brusca da minha biologia e representação do corpo, corro o risco de me desorganizar mentalmente ou de fazer sintomas no sentido de psicose, ou seja, perco a noção de mim mesmo, não tenho noção do espaço e do tempo. Este tipo de coisas ocorre com alguma frequência nos processos patológicos ligados ao parto e maternidade e desencadeiam nas mães uma alteração mental. Ou então há situações depressivas grandes em que a mãe entra num sentimento de que perdeu alguma coisa e entra num luto. Isto pode provocar o autismo porque quando a criança nasce é necessário que ela entre imediatamente em interacção com um ser mentalmente saudável. A incompetência da mãe por razões de saúde, de cultura ou por razões ocasionais diversas fazem com que a criança não adquire os organizadores básicos do seu funcionamento como ser humano.
     O autismo pode ocorrer também por anomalia bio-constitucional não identificado actualmente.


Como se descobre uma criança autista?

     Por várias razões. Primeiro através do tipo de queixas que as pessoas que lidam com a criança fazem acerca dela. Quando uma mãe nota que há qualquer coisa no seu bebé que ela não entende, isso é um sinal importante porque o entendimento e a comunicação entre uma mãe e um bebé é suportado bio geneticamente, assim como competências espontâneas, isto é, não precisam de ser aprendidas. Quando essas competências falham é um sinal de que é preciso avaliar o que se está a passar com a criança porque quer dizer que a criança não está a comportar-se de uma maneira que a mãe entende ou então pode ser a mãe que está perturbada.


Há comportamentos específicos que se podem atribuir às crianças autistas?

     O autismo tecnicamente é definido por Kanner que descreveu um conjunto de comportamentos e de sintomas associados ao autismo como: ausência de comunicação, de linguagem; um conjunto de comportamentos rítmicos de aparência lúdica como pegar num pauzinho e fazer movimentos rítmicos à frente dos olhos; uma sensibilidade particular à luminosidade, jogos de reflexo; incapacidade de distinguir o espaço real do espaço virtual. Através do espelho, por exemplo, os miúdos têm a tendência a meterem-se pelo espelho dentro ou atravessarem vidraças porque não detectam a diferença de brilho do vidro.


A ideia que fica, para quem viu o filme Raiman, é que os autistas podem ser pessoas muito inteligentes, mas com hábitos muito estranhos…

     São crianças cuja evolução é um puzzle, têm áreas de funcionamento humano muito desenvolvidas, há excelentes pianistas, há crianças que têm capacidade de fazer cálculo mental automático superior a uma máquina de calcular. Há um conjunto de competências desintegrado do desenvolvimento que caracterizam estes autismos. Depois há inclusivamente hábitos específicos: as crianças toleram mal a alteração vulgar dos objectos dos seus espaços próprios. Se eu alterar o sítio onde está a cama ou o brinquedo isso pode-lhes fazer entrar em pânico e outras alterações espectaculares. São crianças que não estabelecem uma relação permanente, não reconhecem figuras de vinculação, por isso, os pais têm grande dificuldade em lidar com estes miúdos. Não há um autismo, há muitos.


As crianças autistas são agressivas?

     Não, de maneira nenhuma. São crianças frequentemente vítimas das agressões dos outros. No entanto, podem existir crianças autistas agressivas, mas em situações muito especiais.


Como é que um psicólogo distingue uma criança autista de uma criança dita normal, se fisicamente elas são crianças iguais a todas as outras?

     Através dos padrões de percepção sensorial. Se eu quiser distinguir um miúdo autista de outro que não é, agarro num objecto qualquer e poiso-o em cima de uma mesa para ele agarrar. Ele vai ter dificuldade de agarrar porque ao dirigir-se ao objecto ele vai como se fosse cego, a tactear. Sabe que o objecto está lá, mas não dirige directamente a mão ao objecto. Se na fase seguinte eu lhe mandar o objecto em movimento ele vai directamente ao objecto porque ele acompanha e vê melhor o objecto em movimento.
     Os padrões de percepção sensorial estarão alterados ou por causa de padrões neurobiológicos ou por fenómenos de aprendizagem que não evoluíram. Encontramos este tipo de padrões de percepção no reino animal, por exemplo, as aves predadoras têm integrado este tipo de percepção no acto de caçar porque vêem melhor os objectos em movimento do que parados, é o caso das crianças autistas.


O que faz um psicólogo perante um autista?

     Esta situação é muito complexa porque exige a abordagem de muitos especialistas. Ao nível do diagnóstico tem de ser feito com médicos, com o pediatra, o pedopsiquiatra, o psicólogo e o neurologista. Normalmente, eu faço um diagnóstico dito diferencial de situações ditas de autismo. Ou faço o despiste analisando os sintomas através da entrevista aos pais e através da observação directa da criança ou através de uma observação de dispositivos de avaliação.
     A parte do psicólogo é a parte de avaliação do desenvolvimento mental da criança e das estratégias que estão associadas à parte do pensamento e do processo de simbolização.
     Temos escalas, testes, um sem número de instrumentos e somos capazes de criar dispositivos adequados àquela criança e àquele problema. Somos capazes de recolher material relevante através de uma entrevista com uma criança de 2/3 anos.


Como é que se faz uma entrevista a uma criança autista, se o mais normal é que ela não fale?

     Através do jogo, uma criança autista pode brincar. Deve-se estimular uma criança a comportar-se numa situação lúdica, a partir do momento em que ela entra nessa situação eu sou capaz de ler o que ela está a dizer.


Fica a ideia que as crianças autistas não sabem que existem, não têm noção de elas mesmas…

     O autismo está associado à perda e ausência dos limites do próprio corpo, por isso, devemos fazer exercícios que permitam estruturar essa experiência de corpo que ele perdeu, por exemplo, através de jogos de espelho. Vamos para uma sala com espelhos inquebráveis e nessa sala ponho-os em frente ao espelho, ele brinca e faz tentativa de entrar pelo espelho dentro e eu ajudo-o a perceber que não pode entrar. Ele percebe e começa a lamber o espelho, a dar beijinhos a ele próprio, mas ele não se reconhece no espelho.


Como se dá a notícia aos pais que o seu filho é autista?

     Quando se descobre que a criança é autista eles já suspeitam, normalmente os pais já sabem mas podem não saber o nome, mas sabem que a criança tem um problema e, normalmente, já sabem que é grave. O problema é aceitarem-no psicologicamente e esse é o trabalho do técnico que dá a notícia. No fundo, ele não está a dar notícia nenhuma, está a ajudar os pais a realizar mentalmente aquela experiência que eles sentem, mas que não lhe dão nome porque não lhe querem dar nome porque lhes angustia. A partir do momento em que eu consigo que os pais representem mentalmente a sua situação e a aceitem, está o problema resolvido. Não quer dizer que não exista sofrimento, que não exista uma série de processos de fragilização psíquica que devem ser feitas em contexto clínico. Isto faz com que o técnico clínico estude e desencadeie os processos adequados àquela situação singular. É neste contexto clínico que deve ser conversado o diagnóstico.


Como é que reagem os pais?

     A maioria dos pais começa, mesmo quando o processo ainda está em curso, por negar a situação. Não aceitam, mudam várias vezes de médico ou de psicólogo, andam a fugir com a criança e eles próprios fogem da situação. Isto é muito variável de acordo com o nível cultural dos pais, da sua formação humana, dos meios de que dispõe. Mas a tendência é para ver isto como uma coisa que não pode ser deles, há uma desvalorização de todos os pais que têm crianças deficientes porque isso quer dizer que eles são pais de má qualidade, desenvolvem fantasmas como se fosse um pesadelo que eles acordaram e dizem “Não, não pode ser” porque isto afecta o auto-conceito, a boa imagem de si próprios. Sempre que somos atingidos por realidades que põem em causa a nossa boa imagem, a nossa auto - estima temos tendência a não aceitar isso. À medida que vamos sendo capazes de simbolizar essas situações e conciliar com a nossa imagem, o processo começa a ser mais fácil. É imprescindível que isto aconteça para que o processo educativo e terapêutico junto dessas crianças possa ter efeitos.
     Há um grande prejuízo na eficácia da intervenção junto de crianças autistas se os pais não são capazes de desfazer o mito do filho imaginário que gostariam de ter e que de facto não têm. Muitas vezes os autistas são crianças que à vista não têm configuração nenhuma esquisita como são até crianças bonitas.


Os pais são essenciais para o desenvolvimento das crianças autistas?

     Absolutamente. Não só os pais como também os seus sucedâneos. É preciso ter em conta que quando um pai ou uma mãe, por qualquer razão, não têm condições mentais, psicológicas ou materiais para tomar conta da sua criança, compete à comunidade e nomeadamente ao estado fornecer àquela criança pais alternativos. Por exemplo, a adopção ou apadrinhamento institucionalizado são soluções a ter em conta porque há pais potenciais que não são os biológicos, mas que têm uma grande capacidade para serem pais psicológicos e no fundo a maternidade ou paternidade psicológica é mais relevante que a biológica, porque em todo o processo de transformação chega-se à puberdade/adolescência deixamos de ser pais biológicos e se quisermos continuar a ser pais temos que passar a ser pais psicológicos porque os nossos filhos não suportam que continuemos a tratá-los como se fossem apenas filhos biológicos. Os sistemas de adopção ou de apadrinhamento deveriam ser dispositivos sociais regulados de uma forma eficaz pelo estado e deveria ser apoiado, coisa que praticamente não existe.  


Um autista deve ser integrado numa turma normal ou especial?

     Depende dos recursos da escola normal. Não se deve integrar uma criança com necessidades especiais numa instituição regular sem que a escola e os professores que lá trabalham sejam devidamente assessorados por técnicos especiais e sem acautelar os efeitos dessa integração nas outras crianças que lá estão. Porque com a ideia que se deve integrar as crianças faz-se isso à custa do bem-estar e até às vezes da eficácia educativa dos miúdos que não têm cuidados especiais de educação. Mas que são interferidos por essa ideia bizarra e obsessiva de que uma criança que tem necessidades especiais tem todos os direitos, inclusive de perturbar o normal funcionamento de uma escola.


Se uma criança autista for enviada para associações não se corre o risco de formar um “gueto”?

     Essa é uma falsa ideia. Isso tem aspectos positivos e aspectos negativos. Tanto se pode criar um gueto ao colocar uma criança autista numa instituição dita regular sem que essa escola esteja preparada para o receber e então ele é ostracisado pelas outras crianças, pela própria escola e pelos professores que não estão preparados para receber a criança. Ou tendo boa vontade não têm meios para isso. Isso leva ao ostracismo por má qualidade do serviço prestado à criança. A situação actual do nosso país é essa. A maioria, salvo honrosas excepções, das crianças com necessidades especiais integradas nessas escolas ou são de problemas ligeiros e então aí é mais pela intuição e boa vontade dos técnicos, dos educadores e dos professores que a coisa se resolve, mas muito pouco pelo apoio que em termos de serviços especializados essas escolas deviam ter.


Há em Portugal recursos suficientes para dar respostas a estas crianças?

     Temos, de facto, problemas de recursos. Como estas crianças precisam de especialistas cuja formação é cara, a própria execução dos programas é muito meticulosa, não faz sentido que eu disperse essas energias por muitas escolas com o tamanho que pretende o ministério da educação. O ministério da educação põe os professores especializados a passearem-se de instituição para instituição para dar assessoria a miúdos e muitas vezes a pagar do seu próprio bolso as deslocações. Isto é tudo uma grande barafunda. Para cada situação tem de haver um projecto com mobilização de meios específicos e se há condições para que uma criança receba apoio numa situação por uma instituição regular é de todo o interesse que isso se faça. Para que isso seja eficaz há princípios a ter, a criança na escola regular deve ter recursos específicos, devem ser mobilizados técnicos, deve-se garantir o bem-estar da criança autista bem como dos outros. Nunca nenhuma integração de uma criança autista deve ser feita à custa da desorganização do funcionamento normal.


O autismo é tratável?

     Depende do grau de autismo. Quanto mais cedo for identificada a situação, maiores possibilidades tem a criança de reduzir ou aproximar-se do funcionamento normativo. Quanto mais tardiamente for identificado, mais difícil é de se tratar. Por outro lado, também depende dos recursos. O trabalho é no sentido de ver se a criança adquire maior ou menor autonomia, capacidade de conduzir os seus processos, a sua vida e isso depende de um conjunto de factores que só se pode avaliar e mesmo assim com alguma dificuldade caso a caso.
     Estes problemas não são manuseáveis nem pela medicação nem pela cirurgia. Pode haver medicamentos adjuvantes, mas que não resolvem o problema. O discurso médico de diagnóstico não tem suporte conceptual nem meios de intervenção para isto.


Existe, em Portugal, centros de tratamento adequados para crianças autistas?

     Existem associações específicas para autistas de familiares, técnicos. São movimentos cívicos em que alguns têm o apoio do Estado ou é suposto terem, mas  muitas vezes não têm.


O Estado não apoia estas instituições?

     Há algum apoio, mas miserável.


Como será uma criança autista quando jovem e adulta?

     Depende do processo de desenvolvimento da criança. A questão do autismo é interferida pelas leis normais do desenvolvimento. Os miúdos passam por fases como a puberdade, a adolescência e claro que numa criança autista não se assumem de uma forma regular como numa criança normal. Por exemplo, a questão da adolescência e a questão da reformulação das figuras próximos com os pais. A noção de adulto que o autista tem não é a mesma como uma criança normal. A noção de pai e de mãe tem configurações diferentes. É possível esperar alterações a esse nível que se aproximarão tanto mais da situação normativa quanto a sintomatologia do autista se reduza. Se o processo educativo for muito cedo, de boa qualidade e persistente então eu vou reduzindo a sintomatologia e a expressão do autismo no funcionamento da criança/jovem.


Como será o futuro dessas crianças? Como será a nível do emprego?

     Depende da autonomia dos autistas. Em relação a emprego temos de avaliar sempre as capacidades por um lado e as possibilidades de a criança se mobilizar para adquirir determinadas competências. O processo educativo tem que ser por objectivos e tem de pôr a criança com estímulos de qualidade em que a interacção com o meio vá organizando o desenvolvimento da criança. Tem que fazer-se sempre uma avaliação caso a caso e projectos de educação por objectivos. No emprego é a mesma coisa, para adaptar o sujeito a um posto de trabalho tem que se estudar as características do trabalho, fazer uma análise funcional.
 
(Esta entrevista foi concebida no ano de 2003)
fonte: http://umolhardiferente-to.webs.com/curiosidades.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário