2- Intervenção Farmacológica na PEA
A fisiopatologia das Perturbações de Espectro Autista ainda não se encontra bem definida, e como tal ainda não existe uma medicação específica para o tratamento da PEA. Contudo sabe-se que a terapêutica farmacológica, no caso das Perturbações de Espectro Autista, encontra-se indicada para o tratamento específico do controlo do défice de atenção, da hiperactividade, de fenómenos obsessivos, de compulsões e rituais, de estereotipias, da ansiedade excessiva, da depressão, de problemas de sono, da auto e hetero-agressão e também da epilepsia. É importante ter consciencialização de que, o facto da intervenção farmacológica sobrevir no controlo destas disfunções é uma mais-valia na resposta aos programas educativos.
Logo que a família e o médico acordem numa intervenção farmacológica para tratar a perturbação da criança, os sintomas – alvo devem ser revistos e as opções para os tratar devem ser descritas.
Ao discutir as medicações com as famílias, os esforços de informação devem incluir:
-Porque é que estão a ser sugeridas medicações;-Que alterações se espera que elas operem e com que rapidez;-Efeitos secundários potenciais e raros e em que circunstâncias podem surgir;-Actividades, alimentos, bebidas e outras medicações contra-indicadas ou que exigem precauções;-Resposta recomendada dos pais a potenciais efeitos secundários;-Duração do tratamento.
A intervenção não deverá depender apenas da farmacologia, mas também de outros tipos de abordagens. Assim, a intervenção deverá ser multidisciplinar/multimodal. As famílias devem ser informadas de outras intervenções possíveis, tais como terapia da fala, terapia ocupacional e intervenções comportamentais.
Existem inibidores selectivos da recaptação de serotonina (ISRS), como a fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina, entre outros, que têm sido usadas em crianças com PEA na tentativa de atenuar comportamentos obsessivos, rituais e estereotipados, automutilação e ansiedade. Estes medicamentos potencializam a neurotransmissão serotoninérgica.
Os neurolépticos, antagonistas dopaminérgicos, parecem incidir sobre o controle da agitação, da hiperactividade, da agressividade, das estereotipias e dos comportamentos automutilantes. O haloperidol é um exemplo de um neuroléptico típico, que funciona como um antagonista específico dos receptores D2 da dopamina. Enquanto a risperidona, antagonista dos receptores da dopamina e serotonina, a clozapina, antagonista de receptores adrenérgicos, colinérgicos, histaminérgicos e serotoninérgicos, a olazanpina e a tiapride são considerados neurolépticos atípicos.
Já os psicoestimulantes, agonistas dopaminégicos, têm resultados controversos no controlo da hiperactividade nos indivíduos com autismo.
Existem ainda os antipsicóticos atípicos, que também têm efeitos positivos em “sintomas-alvo” como a irritabilidade, agressividade e hiperactividade em crianças com PEA.
A clomipramina (antidepressivo tricíclico e bloqueador não selectivo da recaptação de serotonina) provou ser capaz de intervir no comportamento obsessivo-compulsivo e, recentemente, em sintomas obsessivos-compulsivos, na redução de estereotipias e de comportamentos automutilantes em autistas. Contudo, o risco de arritmias cardíacas tem limitado o seu uso.
Os antiepiléticos, como o valproato de sódio e a carbamazepina, são fármacos de designação no tratamento da epilepsia, uma vez que, apesar de poderem existir diferentes tipos de convulsões, as mais frequentes parecem ser as do tipo parciais complexas.
As perturbações do sono são comuns nas crianças pequenas com autismo. Vários medicamentos têm sido utilizados para tratar as dificuldades do sono, incluindo a melatonina e a trazodona, um antidepressivo. A trazodona bloqueia selectivamente a recaptação da serotonina, enquanto a melatonina é uma hormona do sono produzida pela glândula pineal a partir do metabolismo da serotonina. A produção de melatonina é estimulada pela escuridão e é importante para a indução e manutenção do sono (Jan et al., 1997).
É importante salientar que nenhuma terapêutica farmacológica mostrou alterar, consistente e permanentemente, o curso das perturbações do espectro autista. Não há tratamento farmacológica que substitua um programa de educação/intervenção individualizado e atempado, contudo, pode atenuar sintomas específicos (agressividade, hiperactividade, estereotipias, ansiedade…).
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