3- Modelo D.I.R.
As perturbações do espectro autista enquadram-se no grupo de perturbações mais severas com que os profissionais de saúde mental infantil têm de lidar.
A gravidade das repercussões no desenvolvimento das crianças, em áreas como a socialização, a comunicação e a aprendizagem, bem como as incertezas relativamente à etiopatogenia, diagnóstico e prognóstico, fazem deste tipo de perturbação uma área de grande estudo, debate e preocupação tanto para os clínicos como para os investigadores (Volkmar & Lord, 1998).
O modelo D.I.R (Modelo baseado no Desenvolvimento, nas Diferenças Individuais e na Relação) é um modelo de intervenção que tem vindo a ser desenvolvido pelo Interdisciplinary Council on Developmental and Learning Disorders, dirigido por Stanley Greenspan e Serena Wieder, nos EUA. É um modelo de avaliação e intervenção que associa a abordagem Floortime com o envolvimento e participação da família, com diferentes especialidades terapêuticas (terapia ocupacional, terapia da fala) e a articulação e integração nas estruturas educacionais.
Existe um grande número de investigações e de observações clínicas que contribuem para a conceptualização de uma abordagem compreensiva do desenvolvimento de crianças com PEA e outras perturbações de desenvolvimento nas relações interpessoais e na comunicação. Estes determinam como a avaliar e intervir:
- Capacidades desenvolvimentais de funcionalidade
-A partilha da atenção e a regulação;-O envolvimento nas interacções;-Afecto recíproco e comunicação gestual;-Jogo pré-simbólico complexo, comunicação social e resolução de problemas, incluindo imitação e atenção conjunta;-Uso simbólico e criativo de ideias, incluindo jogo simbólico e uso pragmático da linguagem;-Uso lógico e abstracto de ideias, incluindo capacidade para expressar sentimentos.
- Diferenças individuais
-Modulação sensorial (por exemplo, em que medida a criança é hiper ou hipo-responsiva às sensações);-Processamento Auditivo e Visuo-espacial;-Planeamento Motor.
- Relacionamentos e padrões de interacção
-Padrões de interacção com o cuidador, pais e família;-Padrões educacionais;-Padrões de interacção com os pares.
A intervenção baseada na abordagem DIR pode ser conceptualizada como uma pirâmide, em que cada um dos seus componentes constituintes é construído sob o outro.
Floor time
Floor time, desenvolvido pelo psiquiatra infantil Stanley Greenspan, é um método de tratamento que tem em conta a filosofia de interagir com uma criança autista. Floortime é baseado na premissa de que a criança pode melhorar e construir um grande círculo de interesses e de interacção com um adulto que vá ao encontro da criança.
Esta abordagem tem como objectivo ajudar a criança autista a tornar-se mais alerta, ter mais iniciativa, tornar-se mais flexível, tolerar a frustração, planear e executar sequências, comunicar usando o seu corpo, gestos e verbalização. Note-se que floor time não é um momento para ensinar, mas sim, explorar a espontaneidade, iniciativa da criança e suas verbalizações, uma vez que o mais importante é despertar na criança o prazer de aprender.
No floor time, os pais iniciam uma brincadeira que a criança goste ou se interesse e seguem os comandos da criança. A partir dessa interacção, os pais ou o adulto envolvido na terapia, são instruídos em como levar a criança para actividades de interacção mais complexa, processo conhecido como "abrindo e fechando círculos de comunicação". Floor time não separa as diferentes habilidades da fala, habilidades motoras ou cognitivas, mas guia essas habilidades, enfatizando o desenvolvimento emocional. A intervenção é chamada floor time, porque os adultos vão para o chão para uma melhor interacção com a criança.
Assim, a abordagem floor time é um modo de intervenção interactiva não dirigida, que tem como princípios básicos: seguir a actividade da criança; entrar na sua actividade e apoiar as suas intenções, tendo sempre em conta as diferenças individuais e os estádios de desenvolvimento emocional da criança; através da nossa própria expressão afectiva e das nossas acções, levar a criança a envolver-se e a interagir connosco; abrir e fechar ciclos de comunicação (comunicação recíproca), utilizando estratégias como o «jogo obstrutivo»; alargar a gama de experiências interactivas da criança através do jogo; alargar a gama de competências motoras e de processamento sensorial; adaptar as intervenções às diferenças individuais de processamento auditivo e visuo - espacial, planeamento motor e modulação sensorial; tentar mobilizar em simultâneo os seis níveis funcionais de desenvolvimento emocional (atenção, envolvimento, reciprocidade, comunicação, utilização de sequências de ideias e pensamento lógico emocional).
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